terça-feira, 7 de outubro de 2014
Crença
Meu partido não se recompõe,
minha fé é crença em mim,
meu guia é meu desatino,
meu herói morreu sem nascer,
meu mestre é o tempo,
meu hobby é viver,
meu narcisismo é egoísta,
meu fim é certo,
minha certeza é finda,
meu eu sou outro,
e não há nada que eu seja ou não seja,
e não há nada que eu queira ou não queira,
e não há nada que eu sinta ou não sinta,
tudo e nada se encontram em mim,
e se sou, antes não era e, um dia, já não serei,
e se não sou, outrora já fui, e voltarei a ser outra vez,
e se quis, já não me importa, quererei amanhã novamente,
se não quis, agora quero, amanhã jogo fora,
e se sentirei, não sinto, mas senti.
e se não sentirei, sinto hoje, antes insensível.
Definir-me é dar sentido ao universo,
nem tento.
Definir-me é perscrutar as partículas elementares,
não me atrevo.
Definir-me é tentar entender a mente de Deus,
não acredito.
Prefiro não acreditar.
E para não enlouquecer,
vou à cozinha beber água.
sexta-feira, 14 de março de 2014
Melhoras
Por que a lágrima te escorre a face,
se ontem mesmo rias sem pudor?
seja o que for, espero que passe,
sou solidário com a tua dor...
Lembranças
E quando tudo o que se sente é saudade?
E quando tudo o que se quer é um beijo?
E quando tudo o que se pensa é vontade?
E quando tudo que se tem é desejo?
Aí então é que se vê o abismo
Que se expande, infinito, quando distantes
E o que resta é obscurantismo
são vagas memórias de lindos instantes
As Cabeças Ocas e Suas Coroas de Plástico
REALmente, o retardamento IMPERA,
Que se coroem as cabeças ocas,
que se curvem ante a babaquice austera
e ouçam as baboseiras que vomitam as bocas
A decepção poderia ser profunda,
não fosse o fato de serem todos humanos
e pensarem, como quem usa a bunda
proliferando sabedorias de insanos
Que a soberba sobreviva e abunde
e que seja sempre a vossa bandeira
Que a nau que vos leva se rache e afunde
e se afoguem todos nas suas asneiras...
Poesia
Poesia, inútil beleza, carrega a tristeza da vida vazia.
Clareza sutil, se erga serena, sorria amarelo, sem alegria.
Seja fútil, vaga, calma como a onda que arrebenta bravia.
Ah, me arrebate, me atravesse, faça valer o meu dia.
Dúvidas
Os estragos estão feitos,
não há retorno na estrada,
os desejos satisfeitos,
deixei tudo na entrada,
mas não vejo uma saída,
não encontro a minha paz,
vejo a figura caída,
me parece um rapaz,
mas espelho é o que fito,
o corpo que jaz é meu,
na garganta morre o grito,
de alguém que se rendeu,
que errou quando tentava,
que tentou mas não devia,
que pensou que te amava,
que achou mas não sabia.
Sem Você
Matar um sonho dentro de si,
morrer um pouco, a cada dia,
ser feliz é para os outros,
eu vivo de desilusão,
eu varro o chão da sua folia,
folheio o tratado da solidão,
me solidarizo com o andarilho,
que caminha assim, sem direção,
rumo ao nada, ao infinito,
da ausência da tua mão...
Dissimulando
Antes que o dia se acabe,
espero acabar-me em ti.
Desculpe-me se menti,
mas é que nunca se sabe.
Palco
Não cantei tão lindamente assim,
desde que me desfiz em silêncios atrozes
e atordoei os cães da vizinhança
com minhas afásicas vozes,
de personagens cegos
que encarnava em uma peça
sem sentido, nem direção...
Caminho
O desengano é a ponte que nos liga entre o sonho e a realidade, entretanto, há um atalho, quase sempre ignorado, que pode servir-nos,
chama-se resiliência...
Passa
Sem você a vida passa
como a uva, murcha,
com você ela pulsa,
como o desejo latente
e me faço contente,
esqueço a repulsa,
da longa marcha,
da vida que passa...
Máscara
Vasto é o deserto que se descortina
no futuro da nossa existência,
vivendo atrás de uma cortina,
escondendo a nossa essência,
atuando em sombrios palcos,
fingindo enganar o querer,
permanecendo em catafalcos
o desejo do nosso viver...
Tempo
O tempo é um sábio senhor,
apesar de julgar sempre igual,
nos condena a suportar a dor
da partida do sopro final,
mas ele nos dá alegrias,
nos deixa viver emoções,
apesar de haver as sangrias
que dilaceram os corações,
há também as lembranças,
que quando partem a membrana,
podem ferir como lanças,
ou adoçar como caldo de cana.
Continua...
... e então, após virar a última página do romance, ficou tudo em branco. Após o ponto final, nada. Neste instante, muitos fecham o livro e o esquecem na estante, enquanto eu percebo que ali, na branquidão do papel, há espaço suficiente para acrescentar, ao menos, uma poesia, um resumo ou, até mesmo, um novo desfecho. Só termina quando a gente quer que termine. Só acaba, se acharmos que deve acabar. Eu prefiro criar...
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