domingo, 16 de dezembro de 2007

Verso para um samba incompleto

Se acaso me quiseres ver chorar
não pense duas vezes em partir
mas se você prefere o meu sorrir
é bom você não sair do lugar

Erick Coelho

domingo, 9 de dezembro de 2007

Não tem

Já estava um tempão sem escrever nada aqui, o que contraria a proposta da criação deste espaço. Estou hoje sem a menor inspiração, já estou com sono, mas, já que eu me dei ao trabalho de criar isso daqui, é interessante que eu pare um pouco para escrever. Não vou dar desculpas do porque ou não de ficar tanto tempo sem postar. Não há desculpas, e se eu poderia muito bem enganar os outros, a mim não estaria enganando. Portanto estou aqui escrevendo coisas sem sentido só para dizer que escrevi alguma coisa. Não to feliz, tampouco triste, estou humano, assim, sem graça, sem saber o que nem como. E já que não estou conseguindo cumprir com meu intento, sem mais delongas, chega por hoje que o amanhã já chegou e eu ainda estou aqui, ou não, dependendo do ponto de vista.

sábado, 1 de dezembro de 2007

Eterna Busca

Este é um dos textos que mais me orgulho de ter produzido:
Em busca de algo, que fuja do mesmo, que seja maior, não sendo eterno. À procura de respostas para perguntas que não ouso, não pelo medo, mas pelo não saber se devo. E sem ao menos entender o que me guia, e sem saber ao menos se já estou ou ainda vou, eu sigo. Eu sangro e canso, eu subo e volto e quando eu caio, não sinto dor. Eu acho graça e canto baixo e saio louco e não me acho, mas vou!!! Erick Coelho

quarta-feira, 28 de novembro de 2007

Que Dia Glorioso

28/11/2007. Este dia ficará marcado na minha história!!! Um dia que começou tarde para mim, só acordei uma da tarde, já tendo que correr contra o relógio. Depois de me arrumar, gravei finalmente a apresentação do artigo no pendrive e fui para uff. Só consegui almoçar alguns minutos antes da apresentação, mas, no final, tudo deu certo. A sala estava cheia, umas cinquenta pessoas, entre alunos, professores, convidados além dos meus pais. No começo, como sempre, estava nervoso, mas no transcorrer do trabalho, fui ficando mais calmo. No fim, muitos aplausos e elogios, de colegas, de mestres e de desconhecidos. Uma alegria imensa pelo reconhecimento de um trabalho que vem sendo feito há pouco mais de um ano com meus alunos e companheiros de trabalho do ProJovem. Tudo encerrado, foi justamente para a reunião do ProJovem que segui, e lá fiquei sabendo que meu contrato seria renovado por, pelo menos, mais seis meses. Mais uma vez este trabalho estava sendo reconhecido, agora pelos meus chefes, mais uma vez uma onda de euforia tomou conta de mim. Este foi o dia em que percebi que realmente o meu futuro, e o meu presente, está na educação. O sonho é chegar às salas de aula das universidades, mas o programa em que trabalho hoje vem me ensinando muito, não só do ambiente acadêmico, mas também sobre a vida. Meus alunos vivem uma realidade que muitos dos que podem ler este texto não fazem idéia de que exista, e aqueles que sabem, nunca viveram-na na pele. Ter que trabalhar, após quatro horas seguidas de aula, das 18 às 22, em um lixão, durante toda a madrugada, pois este horário há menos gente para disputar os materiais que são vendidos a melhores preços. Ser preso ou oprimido pelo tráfico ou a policia. Ter que vender seu corpo para dar o que comer aos filhos. Apanhar dos pais bêbados ou dos maridos enciumados. Escutar a todo instante piadas ou ofenças. Não ter água encanada ou esgoto tratado em casa. Uma realidade, ou melhor, muitas realidades de sofrimento e dor, mas, por incrível que possa parecer, sem perder a esperança da possibilidade de melhora na condição de vida. Sem deixar morrer no rosto o sorriso. O meu medo hoje se tornou respeito e admiração. Pobreza e sofrimento não são coisas veneráveis, venerável é a força destes homens e mulheres que não se deixam abater e lutam, a cada dia, pela possibilidade de receberem uma recompensa desta vida que, até agora, lhes deu muito mais dor e insegurança. Eu sigo com meus sonhos, como eles seguem com os deles, mesmo que sejam sonhos distintos, sei que com trabalho, vontade e um sorriso no rosto, conseguiremos chegar lá.

terça-feira, 27 de novembro de 2007

Artigo Aprovado Para Apresentação Oral e Publicação nos Anáis do III Entur - UFF

A BUSCA DE CIDADANIA ATRAVÉS DA EDUCAÇÃO – O PROGRAMA NACIONAL DE INCLUSÃO DE JOVENS E O TURISMO NA CIDADE DE NITERÓI - RJ[1]

Erick da Cunha Coelho Zickwolff
[2]


RESUMO

Com vistas ao desenvolvimento sócio-econômico da juventude financeiramente carente da cidade de Niterói, Região Metropolitana do Estado do Rio de Janeiro, o presente artigo tem como proposta analisar o ensino de Turismo e Hospitalidade dentro do Programa Nacional de Inclusão de Jovens (ProJovem), naquela localidade, fazendo um breve exame da educação, da economia e da política no país através do tempo, e da realidade vivida no município niteroiense. Há também uma visão histórica do relacionamento entre as cidades do Rio de Janeiro e de Niterói, e de como a atividade turística evoluiu e é vivida em ambas.
Com a dificuldade de se inserir no mercado trabalho e sem a perspectiva do primeiro emprego formal, a juventude do país como um todo, e especificamente a de Niterói, pode se beneficiar com a iniciativa do Governo Federal de capacitá-los profissionalmente, além de possibilitar a conclusão do ensino fundamental. Entretanto, há a necessidade de se investir na educação regular para que, cada vez menos, tais projetos tenham de ser criados visando o reparo de dívidas sociais, resultantes de anos de descaso com o ensino público.
Porém, o simples fato de estar matriculado em tal programa não proporciona aos jovens, instantaneamente, os conhecimentos e aprendizagens necessários. Há que haver também interesse destes na conquista de uma vida melhor, o que muitas vezes não acontece. Seja pelo fato do envolvimento com movimentos do crime organizado, ou por anos de descrédito recebido da sociedade e de familiares, muitos destes alunos não percebem o seu potencial e, por isso, obrigam os educadores e coordenadores do projeto a realizar uma labuta diária na tentativa de ajudá-los a resgatar a auto-estima perdida.
O artigo foi desenvolvido através de pesquisa bibliográfica, com a utilização de fontes primárias e secundárias, em sítios da internet, artigos e livros. Foi também de grande valor para a realização do mesmo as experiências vividas pelo autor durante o período de estágio na Neltur (Niterói Empresa de Lazer e Turismo) e como educador do ProJovem, função que exerce até hoje. Este trabalho foi inspirado e é dedicado a todos aqueles que acreditam que através do estudo e do conhecimento, pode-se construir uma vida melhor.


PALAVRAS-CHAVE

Educação, Juventude, Niterói, Turismo, Inclusão Social.


INTRODUÇÃO

A educação pública de nível fundamental no Brasil apresenta problemas graves há muitos anos, desde o descontentamento dos profissionais ligados à área, até o sucateamento das escolas que, em determinadas localidades, chegam ao nível de completo abandono. Aqueles que dependem destas instituições de ensino, em sua maioria, também sofrem com problemas econômico-sociais, como o desemprego, a falta de moradia própria, a escassez de saneamento básico nas localidades onde vivem, apenas citando alguns.
A origem deste triste quadro não é recente. Ele é resultado de anos de descaso para com o povo brasileiro, que sofre, desde sempre, com a dependência econômica do país em relação ao capital estrangeiro, seja ele português, nos tempos da colonização, inglês, após a abertura dos portos às nações amigas ou mais recentemente, dos norte-americanos, que ditam as regras econômicas mundiais desde o fim da Segunda Guerra Mundial.
Em uma tentativa de reparar uma parte dos danos causados àqueles que não tiveram a oportunidade de finalizar seus estudos, ainda em nível básico, o Governo Federal idealizou o Programa Nacional de Inclusão de Jovens (ProJovem), que visa a assistir uma parcela determinada da população jovem do país, possibilitando a conclusão do ensino fundamental e proporcionando a chance de uma formação profissional em área de atuação escolhida pelo próprio jovem.
Realizado em parceria com as prefeituras dos municípios onde é implantado, que dentre outras coisas, cedem o espaço em escolas de sua rede para as aulas, o ProJovem, em Niterói, começou suas atividades em novembro de 2006, tendo sua aula inaugural sido realizada no Clube Canto do Rio. Hoje conta com sete núcleos, localizados em bairros como Barreto, Viçoso Jardim, Fazendinha e Icaraí.
Pelo seu crescimento na cidade, nos últimos anos, o Turismo foi um dos quatro Arcos Ocupacionais
[3] escolhidos pela Fundação Municipal de Educação de Niterói para ser ministrado no município. As atividades turísticas e de apoio turístico são responsáveis pela absorção de um grande número de trabalhadores, não só de Niterói, mas também de cidades próximas, como São Gonçalo, Itaboraí, Maricá e do próprio Rio de Janeiro.
Assim, o que se pretende com este trabalho é analisar a realidade da cidade de Niterói, traçando um perfil dos estudantes do já citado projeto e de que maneira o turismo local, que apresenta melhorias significativas em aspectos como sinalização, informação e novos atrativos, pode servir como alternativa para estes jovens, em sua maioria, de comunidades carentes, melhorando a qualidade de suas vidas.
O método básico utilizado na composição deste artigo foi a pesquisa bibliográfica em fontes primarias e secundárias. A vivência do autor como estagiário da Niterói Empresa de Lazer e Turismo (Neltur), bem como educador do Programa Nacional de Inclusão de Jovens (ProJovem), também foi de grande relevância para a escolha do tema e seu efetivo desenvolvimento.

DESENVOLVIMENTO


BRASIL: ECONOMIA, POLÍTICA E EDUCAÇÃO – A ORIGEM DOS PROBLEMAS

Desde a época em que o Brasil dava os seus primeiros passos, ainda amparado pelas “mãos” de Portugal, até a atualidade, tempo em que os grandes mandantes do mundo são os Estados Unidos da América, a economia e, por conseguinte, a política do país se vêem atrelados a interesses externos. Apesar do brado de independência em 1822, infelizmente os brasileiros nunca puderam se considerar efetivamente livres da influência da exploração e do capital estrangeiro.
Primeiro foi o mercantilismo que modelou a estrutura socioeconômica do Brasil, com as extrações de minerais e pau-brasil, e pouco depois, com a monocultura açucareira. Nesta época começa o tráfico negreiro, ou seja, a chegada dos negros africanos escravizados, que serviriam de mão-de-obra a ser explorada.


Em 1808, com a vinda da Família Real para o Brasil, fugindo das tropas do imperador francês Napoleão Bonaparte, ocorre a abertura dos portos brasileiros às nações amigas, nada mais que a transmissão da dependência econômica de Portugal para a Inglaterra, com quem os nossos colonizadores originais possuíam grandes dívidas. Com o desenvolvimento das indústrias inglesas, essas dependiam de consumidores para prosperar, e sendo os escravos impossibilitados de consumirem qualquer bem, uma vez que não eram remunerados, fez-se necessário o fim da escravidão. Justamente foram os ingleses, que antes tanto se beneficiaram do trabalho dos escravos, que começaram a cobrar a liberdade destes.
A escravidão, aos poucos, vai terminando, pelo menos oficialmente, e estes homens que conquistam sua liberdade não são assistidos por ninguém, são deixados à margem, obrigados a migrar para as regiões mais afastadas dos grandes centros, ou a subir as encostas dos morros. Começa aí o fenômeno das periferias e favelas que assolam, não só o Brasil, mas toda a América Latina.
Em 1889, o país deixa de ser um império e se transforma em república, um estado democrático, e ao mesmo tempo, capitalista. Eis aí o grande problema, a Democracia parte de um pressuposto de igualdade, sem distinções, enquanto o capitalismo é um sistema econômico baseado na desigualdade. Para que alguns tenham muito é necessário que muitos tenham pouco. Como haver justiça em uma sociedade que se apóia em dois sistemas contrastantes, dos quais o que prega a diferença entre os homens é o mais forte? Não há.
Por fim, após a Segunda Grande Guerra Mundial, dois blocos hegemônicos se formam: o Capitalista, liderado pelos Estados Unidos, e o Socialista, encabeçado pela União das Repúblicas Socialistas Soviéticas. O sistema socialista entrou em colapso em fins da década de 1980, e os americanos, com seu “capitalismo selvagem”, dominaram a cena econômica mundial.
Com sua economia atrelada à dos americanos, o Brasil passa a realizar, por exemplo, substituição de culturas, com vistas à exportação, o que só vem a prejudicar as camadas mais necessitadas do povo.
Para piorar este quadro, a educação do país, em seu nível público, vem enfrentando graves problemas, que vão desde o descontentamento dos professores
com os salários pagos, até o sucateamento das escolas e desvio de verbas referentes à compra de merenda e materiais escolares. Além disso, a estrutura do vestibular fomenta a criação dos chamados cursinhos, que cobram altos valores de mensalidade, excluindo assim, uma vez mais, as esferas mais pobres da sociedade, desta vez, do ensino superior gratuito.

PERFIL SÓCIO-ECONÔMICO DA JUVENTUDE BRASILEIRA

Para justificar a escolha da faixa-etária do grupo que seria assistido pelo ProJovem, dados coletados no último Censo do IBGE, realizado no ano de 2000, foram utilizados, e mostram o perfil sócio-econômico dos jovens do país.
O primeiro dado relevante em relação aos jovens, grupo etário convencionalmente delimitado entre pessoas de 15 a 24 anos, estes eram cerca de 20% da população brasileira, representando um total aproximado de 34 milhões de pessoas. Destes, a grande maioria (58,7%) vivia em famílias com renda mensal inferior a um salário mínimo.
Sendo considerado esse perfil de renda, além de outros indicadores de desigualdade social, os problemas por que passam muitos jovens brasileiros ficaram evidentes: restrição ao acesso à educação de qualidade e dificuldades para a continuidade nos sistemas escolares; inadequação da qualificação para o mundo do trabalho; envolvimento com drogas; gravidez precoce; índice elevado de mortes por causas externas (acidentes de trânsito, homicídios e suicídios); e baixo acesso ao lazer, cultura e práticas esportivas.
Foi também percebido que os jovens com idades entre 18 e 24 anos, em torno de 13,5% da população do país, eram os mais atingidos pelas mudanças no mundo do trabalho, pela fragilidade no sistema educacional e os que apresentavam maiores carências de apoio das redes de proteção social.
No ano de 2003, segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), dos 23,4 milhões de jovens com idade entre 18 e 24 anos, apenas 7,9 milhões estavam freqüentando a escola. Sendo que, dos 15,4 milhões de jovens desta faixa etária fora do sistema educacional, 4,9% eram analfabetos, 35,3% não haviam terminado o ensino fundamental e 7,8% não concluíram o ensino médio.
Outro dado importante é o fato de que grande parte destes jovens também não se encontrava inserida no mercado de trabalho formal,sendo que 13%, ou cerca de 1 milhão de jovens declararam-se desempregados, enquanto 60% desenvolviam algum tipo de ocupação informal, sem carteira assinada e nem direitos garantidos.
Por tudo isso, o Governo Federal percebeu que seria importante a criação de um programa capaz de reduzir estes números alarmantes e melhorar, de forma real, a vida desses jovens.

O PROJOVEM

O ProJovem, Programa Nacional de Inclusão de Jovens: Educação, Qualificação e Ação Comunitária (ProJovem), teve suas aulas iniciadas no ano de 2005, em algumas das principais capitais do Brasil. Ele é um componente da Política Nacional de Juventude, do Governo Federal, de caráter emergencial e experimental, que se propõe a atende jovens com idades entre 18 e 24 anos, que concluíram a quarta série do ensino fundamental, mas não finalizaram a oitava série, não tendo, portanto, o nível fundamental completo.
O programa é resultado de um diagnóstico sobre a juventude brasileira, traçado durante o ano de 2004 por um grupo constituído de 19 ministérios, além de secretarias e órgãos técnicos especializados. Os dados deste foram obtidos após pesquisas realizadas pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) e pela incorporação de resultados de análises e consultas realizadas pela Unesco e pelo Projeto Juventude do Instituto Cidadania.
O ProJovem oferece a seus participantes, além da oportunidade de elevação do nível de escolaridade, uma chance de inserção no mercado de trabalho, através da qualificação profissional oferecida, e também o planejamento e execução de ações comunitárias de interesse público. Há ainda para aqueles alunos com freqüência igual ou superior a 75% e que estejam em dia com a apresentação dos trabalhos propostos pelos educadores do programa, uma bolsa mensal de R$100,00.
A inclusão digital também faz parte da política de formação educacional dos jovens, ampliando os horizontes destes e inserindo-os na realidade do mundo globalizado em que vivem, com o avanço das tecnologias dos meios de comunicação, que permitem o intercâmbio de idéias e técnicas, em tempo real, de qualquer recanto do mundo, para a tela de um microcomputador.
A organização estrutural do projeto é feita como uma rede em que os núcleos representam a menor célula e se articula em Estações Juventude. Essas se ligam a uma coordenação municipal, que por sua vez, se articula com a coordenação nacional. Cada Estação Juventude é responsável pelo apoio a oito núcleos. Cada núcleo, por sua vez, possui cinco turmas com no máximo trinta jovens cada. Assim uma única Estação Juventude pode ser responsável por até mil e duzentos alunos.
Em relação aos educadores, cada núcleo possui sete docentes especialistas em uma das áreas, a saber: Matemática, Língua Portuguesa, Língua Inglesa, Ciências Naturais, Ciências Humanas, Ação Comunitária e Qualificação Para o Trabalho.
Esta última matéria se faz extremamente importante, uma vez que a dificuldade para a entrada no mercado de trabalho, pelos jovens, é crescente em nossa sociedade. Há o agravante de que os beneficiados pelo programa são considerados mão-de-obra sem qualificação, uma vez que não terminaram nem seus estudos básicos. Enric Sanchis, em seu livro Da Escola ao Desemprego, dedicado a todos àqueles jovens que não possuem outra possibilidade a não ser ocupar empregos de baixa qualidade destaca:
A formação continua sendo uma das melhores alternativas vitais para quem não cabe no mercado de trabalho, o que é particularmente correto no caso de jovens. (...) Além disso, a evolução efetiva das qualificações depende também do nível de qualificação prévio da força de trabalho. Um trabalhador qualificado tem mais possibilidades de acabar modificando as condições de um emprego banal do que um trabalhador não qualificado. (...) o mínimo que se pode fazer com os prováveis excluídos do sistema econômico é dar-lhes uma formação que lhes permita defenderem-se de maneira socialmente dirigível da selva para a qual parece que nos aproximamos. (...) Se, além de excluídos, forem analfabetos funcionais porque as necessidades do sistema econômico não justificam o investimento em sua formação, isto implicará mudanças nas previsões sobre as necessidades futuras de mão-de-obra e no tocante à vigilância e segurança dos cidadãos.
Destacando a parte profissional do projeto, a Qualificação Para o Trabalho, esta se divide em duas etapas: na primeira delas o aluno assiste a aulas de Formação Técnica Geral (FTG), que abrangem conteúdos como “direitos e deveres dos trabalhadores”, “as diferenças entre produção de bens e prestação de serviços”, “a evolução tecnológica e suas implicações no mundo do trabalho”, dentre outros. Esses tópicos dão ao jovem uma base que pode ser utilizada em qualquer atividade profissional que ele venha a desenvolver. Na segunda etapa o aluno escolhe uma das quatro opções de cursos oferecidos, agregando uma gama de informações específicas da área. É aí que o Turismo se insere no ProJovem.
O ProJovem oferece ao município onde será implantado, uma lista com dezoito Arcos Ocupacionais, que se dividem em quatro ocupações cada. O município após a análise e estudo do desenvolvimento sócio-econômico local, seleciona quatro deles para que sejam ministrados ali. Um destes arcos é o de Turismo e Hospitalidade, que se subdivide em: Organização de Eventos; Recepção de Hotelaria; Guia de Turismo Local e Cumim
[4]. O aluno, durante os primeiros seis meses de aulas, escolhe o curso que realizará nos seis meses finais de projeto.
Implantado inicialmente em Capitais Federais, onde as primeiras turmas já foram formadas, hoje o ProJovem chega também à cidades que possuem mais de duzentos mil habitantes, caso de Niterói, município fluminense com aproximadamente quinhentos mil moradores. A cidade faz parte da Região Metropolitana do Rio de Janeiro, estando a apenas 14 quilômetros da capital do Estado, a cidade do Rio de Janeiro. Para melhor entendimento da situação deste município, é interessante uma rápida visão de sua trajetória histórica.

NITERÓI E SUA HISTÓRIA

Com a peculiaridade de ser a única cidade do Brasil fundada por um índio
[5], o cacique Araribóia[6] da tribo dos Temiminós[7], em 22 de novembro de 1573, Niterói teve desde seus primórdios um laço estreito com a vizinha cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro. Isso se deve ao fato de que Niterói “nasce” após a expulsão dos franceses que tentam implantar no território do Rio de Janeiro uma colônia, sendo infelizes desde o princípio de sua empreitada, devido a sérios problemas de organização e planejamento.
Inicialmente uma aldeia, chamada de São Lourenço dos Índios, o local cresceu a partir da instalação desta no alto do morro de São Lourenço, ponto estratégico da região por possibilitar uma visão ampla da baía e do mangue em sua base, hoje completamente aterrado. O lugar contava com a proteção dos jesuítas, que pela primeira vez encenaram uma representação teatral em solo fluminense, o Mistério de Jesus, mais conhecido como o Auto de São Lourenço, escrito pelo padre José de Anchieta.
No seu primeiro século de existência, a localidade começa a receber outros colonos, europeus, que instalam sesmarias nas regiões de Icaraí e Piratininga. Além deles, os jesuítas também mantém uma fazenda, localizada no Saco de São Francisco, onde são produzidos alimentos para abastecer o Colégio da ordem, no Rio de Janeiro. Essa colonização foi incentivada pelos portugueses pois estes não confiavam na competência dos indígenas para desenvolver as terras da “Banda d’Além. Com a morte de Araribóia, em 1587, começa a decadência do aldeamento, que é declarado extinto oficialmente apenas em 1866.
A emancipação da região se deu em 10 de maio de 1819, com a criação da Vila Real da Praia Grande. A partir de então a localidade passou a ter independência político-administrativa em relação à cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro. Esse processo começou com a morte de Da. Maria I, “a louca”, tendo seu filho, D. João VI, sido convidado a passar alguns dias na Banda d´Além e sendo presenteado com um palacete que ficava próximo ao cais de São Domingos, região onde hoje se localiza a Praça da Cantareira. El-Rei D. João VI concede então ao povo o “Beija-mão”, tradição medieval que consistia na apresentação das pessoas da boa sociedade frente ao monarca para beijar-lhe a mão, era uma cerimônia honrosa para os que dela participavam.
Em 1834, três anos após a abdicação de D.Pedro I, é determinado que a então Regência Trina que governava o Império brasileiro seria mudada para uma Regência Una, e que a cidade do Rio de Janeiro se tornaria Município Neutro, sendo separada da Província do Rio de Janeiro. Assim se fez necessária a escolha de uma nova capital para tal província, que era formada pela cidade de Cabo Frio e mais dezenove vilas, que se fossem escolhidas para o posto, automaticamente se tornariam uma cidade. Assim, em 26 de março de 1835, a Vila da Praia Grande foi elevada à capital e à cidade, com o nome de Nictheroy, que significa “água escondida”, em tupi.
Durante alguns anos, após a proclamação da República, devido ao episódio conhecido como “Revolta da Armada”, ocorrido nas águas da Baía da Guanabara, a capital é transferida de Nictheroy para Petrópolis
[8]. Passado o período de insegurança, em 1902 o governo declara que a cidade deve voltar a ser a capital, fato que se concretiza em 1903.
Na década de 1970 é inaugurada a ponte Presidente Costa e Silva, ligando as cidades do Rio de Janeiro e Niterói, que recebeu a denominação popular de Ponte Rio - Niterói. Além desta ligação física, os estados da Guanabara e do Rio de Janeiro se fundem, sendo assim criado o novo estado do Rio de Janeiro. Assim, Niterói perde o seu posto de capital de estado, que retorna à cidade carioca. Uma certa depressão tomou conta da cidade fundada por Arararibóia, durante cerca de 15 anos. Porém, no final dos anos de 1980 a cidade redescobre vocações adormecidas, como a cultura e começa a resgatar sua auto-estima.
Hoje Niterói apresenta números relevantes que demonstram seu efetivo crescimento, como o primeiro lugar em renda per capita do Estado, o menor índice de analfabetismo, uma das principais cidades nacionais em qualidade de vida e demonstra um crescimento real no número de visitantes, em busca, principalmente, de atrativos culturais, como o MAC e as fortalezas.

A CIDADE DE NITERÓI E A ATIVIDADE TURÍSTICA

Como já foi destacado anteriormente, as duas cidades ligadas pela ponte Costa e Silva, possuem estreitos laços históricos. Porém, devido à maneira como ambas evoluíram, e a seus papéis na história nacional, o Rio de Janeiro despontou primeiramente como capital do Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves; capital do Império do Brasil e capital da República Federativa do Brasil, enquanto Niterói ficou como coadjuvante no processo, chegando a ser capital do Estado do Rio de Janeiro. Devido a esse processo de sede do poder, a cidade carioca obteve um crescimento mais acelerado e conquistou a posição de “cara do país”, tendo seus hábitos de vida associados diretamente à imagem do Brasil.
Com isso o Rio de Janeiro foi palco de grandes acontecimentos, atrativo para os estrangeiros e para migrantes de todo país, apresentando um inchaço na sua população, que hoje é dez vezes maior que a de Niterói. Assim, a cultura, pelo menos em termos quantitativos, foi muito mais fomentada naquela cidade, além do número de bens imóveis construídos que hoje são atrativos turísticos consolidados, como o Paço Imperial, a Casa de Rui Barbosa e o Palácio do Catete. Niterói, “refém” à sombra daquela cidade, não obteve crescimento tão grande, nem tão rápido, e ainda hoje, em termos de atração para o turismo, está atrelada à imagem carioca.
Niterói também foi palco de alguns episódios importantes da história nacional, como a Revolta da Armada, e abriga, por exemplo, o mais antigo teatro municipal do país, o Teatro Municipal João Caetano, palco da primeira peça teatral escrita, dirigida e com atuação 100% brasileira, sendo marco do Teatro Nacional. Acontece que a cidade não possui uma rede hoteleira complexa, ou aeroporto, ficando assim atrelada à cidade vizinha, e dependente desta para a captação de parte considerável de seus visitantes.
Hoje a cidade niteroiense, por si só, não é capaz de atrair um número expressivo de demanda turística. Há na cidade, muitos atrativos culturais interessantes, como o Museu de Arte Contemporânea, cujo prédio é um projeto do famoso arquiteto brasileiro Oscar Niemeyer, e o conjunto de fortalezas e fortes, considerado o maior do país. Entretanto, não é ainda habitual o deslocamento de turistas para a cidade, seja em nível internacional, nacional ou até mesmo regional, afim de lá despender mais de um dia para visitas, para melhor conhecer o município. O que se vê é a prática de excursionismo, segundo a OMT, visitantes de um dia, que não pernoitam no local. Geralmente estes são turistas hospedados na cidade do Rio de Janeiro ou moradores das cidades circunvizinhas.
Um erro até há pouco cometido, e que somente agora está sendo revertido pela Niterói Empresa de Lazer e Turismo (Neltur), era a promoção da cidade de maneira independente, como se esta fosse um produto consolidado, o que efetivamente não é. A Neltur, hoje, busca integrar Niterói à demanda que busca a cidade vizinha, e que é a cidade brasileira que recebe, anualmente, o maior número de turistas estrangeiros, Rio de Janeiro. Com isso, apesar de não conquistar turistas efetivos, o número de visitantes é crescente.
Uma saída para o turismo em Niterói, e que também é cada vez mais explorada, é o turismo de negócios e eventos. No mês passado foi realizada na cidade mais uma edição da Fenashore, uma feira de negócios com foco na indústria naval e Off Shore, que movimenta milhões de reais e que contou com a presença, dentre outros ilustres, do vice-presidente José Alencar, dada a importância do evento. Além disso, existe o plano de construção de um centro de eventos onde hoje se localiza a Concha Acústica de Niterói, o que, com certeza, atrairá ainda mais demanda para a cidade.
Pelo número crescente de visitantes e com o incremento do turismo de negócios no município, é muito provável que novos empreendimentos turísticos ou de apoio turístico surjam, abrindo assim novos postos de trabalho, que necessitarão de mão-de-obra qualificada para ocupá-los.

O PROJOVEM, A JUVENTUDE NITERÓIENSE E O TURISMO

Apesar de apresentar números muito relevantes no que se refere ao índice de analfabetismo, o mais baixo do Estado, Niterói possui áreas que abrigam habitantes de baixa renda, que não tiveram, ou tiveram pouco contato com as salas de aula. Para uma pessoa ser considerada alfabetizada, basta que ela tenha concluído o antigo Curso de Alfabetização, sabendo “ler” as letras, talvez até mesmo soletrar palavras e frases. Mas, infelizmente, saber decodificar a língua não é o mesmo que compreender o que aqueles códigos representam. As pessoas que não conseguem realizar esta compreensão, mas que decodificam caracteres são chamadas de “analfabetos funcionais”. Este é, basicamente, o público que o ProJovem de Niterói atende, jovens de 18 a 24 anos, que adentram ao programa sem entender aquilo que lêem.
Assim começa o primeiro desafio, antes mesmo de tentar ensinar sobre o mundo do trabalho, é preciso que os alunos comecem a entender, efetivamente, o que está escrito, e até mesmo, o que está sendo dito para eles. Este trabalho de letramento é árduo, e não é dever apenas do professor de Língua Portuguesa, mas de todos aqueles envolvidos no processo. Apesar de todos os esforços, alguns alunos não conseguem realizar este primeiro passo, o que compromete seu futuro educacional.
É importante lembrar que alguns destes jovens, apesar de aderirem ao programa, possuem ligações com o crime organizado, se drogam, prostituem e muitas vezes, trabalham, antes ou após o horário das aulas, o que faz com que muitas vezes estejam ausentes das carteiras. Para alguns, o ProJovem não é a perspectiva de uma vida melhor, apenas um local para interação social e onde é “fácil” obter uma renda mensal de R$ 100,00. Mas nem tudo está perdido, muitos estão se empenhando, e demonstrando evoluções fantásticas, convictos de que, se persistirem e se dedicarem, irão construir um futuro melhor.
Os alunos que sabem que possuem essa chance única, uma vez que a reprovação ao final do período letivo elimina outra possibilidade de acesso ao programa, são os maiores beneficiados com o ProJovem. Próximos à formatura, que acontecerá em novembro de 2007, os alunos da primeira turma já estão encerrando a teoria e começando a praticar o que aprenderam. Visitas técnicas, organização de pequenos eventos, city tour realizado pela cidade, são algumas das atividades já realizadas, e ainda faltam muitas outras. Estes dois últimos meses deverão ser utilizados, preferencialmente, para a realização de tais atividades.
Estes alunos, muitas vezes tratados preconceituosamente, impedidos, pela suas condições financeiras, de ter acesso a locais de cultura, começam a conhecer sua cidade, visitando museus, hotéis, fortes e fortalezas, além de outros atrativos da cidade. E justamente através deste conhecimento é que poderão desenvolver seu papel efetivo dentro do mercado profissional da atividade turística.
O grupo de educadores de turismo e hospitalidade do ProJovem de Niterói é composto por cinco alunos do curso de turismo da Universidade Federal Fluminense, que durante outubro de 2006 passaram por um processo de seleção e por um curso de capacitação em educação ministrado pela Fundação Darcy Ribeiro (Fundar). Assim, não só para os jovens que buscam o término do estudo básico este programa é importante, mas também para aqueles que estão cursando o ensino superior, e que, como o autor deste artigo, têm a intenção de seguir a carreira acadêmica.
Por fim, as palavras de Luiz Trigo se encaixam muito bem neste assunto e merecem ser aqui exibidas:

Qualquer instituição educacional, governo, empresa ou grupo que deseja promover o estudo do turismo deve entender que alguns tópicos são essenciais: analisar criticamente o processo da globalização e a dinâmica das sociedades pós-industriais; considerar a ética e a sustentabilidade como vitais para o turismo; compreender a inserção do turismo no contexto maior do entretenimento, da educação, mídia e cultura; ter consciência da necessidade de justiça social e promoção do ser humano; e finalmente que o turismo é algo divertido e deve ser aprendido e ensinado com o maior prazer possível.

CONCLUSÃO

Tendo sido apresentados os dados e análises, percebe-se que é possível se construir a cidadania através do estudo, mesmo que tardio, bastando para isso se dedicar e aproveitar a chance, que é única, empenhando-se nas atividades e aulas. O caminho nem sempre é fácil, e vida já foi muito dura para muitos destes jovens, porém, nunca é tarde demais para buscar o crescimento, seja ele pessoal ou profissional.
Percebe-se também que a cidade de Niterói, vem melhorando sua infra-estrutura turística e de apoio turístico, o que pode, em breve, se converter em novos postos de trabalho, prontos para serem ocupados por mão-de-obra qualificada. A dependência em relação a cidade vizinha do Rio de Janeiro não deve ser encarada como um revés, mas vista como uma maneira de se beneficiar de um mercado consolidado que pode gerar, efetivamente, demanda de visitantes para a cidade.
Para o futuro, espera-se que a educação pública de base seja reestruturada e possa, de uma vez por todas, funcionar de maneira eficaz no Brasil evitando a necessidade da criação de projetos paliativos, que neste país, infelizmente, quase sempre acabam se tornando permanentes. O ProJovem é uma maneira de se tentar melhorar a vida de algumas pessoas que durante muitos anos sofreram as ações das desigualdades sociais. Que os filhos destes não precisem mais de projetos assim, que tenham a educação garantida desde seus mais tenros anos de vida.




REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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http://www.revistaenfoque.com.br/index.php?edicao=55&materia=307, acessado em 13 de outubro de 2007.
[1] Trabalho orientado pela Professora M.Sc. Valéria Lima Guimarães, da Universidade Federal Fluminense.
[2] Bacharelando em Turismo pela Universidade Federal Fluminense (UFF). Educador de Turismo e Hospitalidade do Programa Nacional de Inclusão de Jovens (ProJovem) - Niterói. E-mail: erickturismo@hotmail.com.
[3] A parte profissional do projeto é dividida em duas etapas. Na primeira o aluno assiste à aulas de Formação Técnica Geral, aprendendo sobre leis, direitos e deveres inerentes a trabalhos de qualquer ramo profissional. Já na segunda etapa, escolhem, dentre quatro opções, um curso de especialização. Além do curso de Turismo e Hospitalidade, o ProJovem de Niterói oferece também os cursos de Metalmecânica; Construção e Reparos; e Serviços Domésticos.
[4] Ajudante de garçom que, entre outras atividades, limpa e organiza o local de trabalho, prepara os aparadores e mesas, limpa equipamentos e utensílios de trabalho e retira pedidos na cozinha e na copa.
[5] Há certo erro em se considerar a cidade de Niterói como tendo sido fundada por um índio, pois naquela época ela era apenas uma aldeia, só sendo elevada à categoria de cidade em 1835.
[6] Nascido na Ilha de Paranapuã, hoje Ilha do Governador, no município do Rio de Janeiro, era filho de Maracajaguaçú, considerado por alguns historiadores como o maior líder que a tribo dos Temiminós teve. Foi um valoroso guerreiro na luta dos portugueses contra os franceses que queriam instaurar, nas terras banhadas pela Baía da Guanabara, a chamada França Antártica. Após as batalhas que determinaram a expulsão destes últimos, foi batizado com o nome católico de Martim Afonso de Souza e recebeu as terras chamadas, a época, de “Banda d´além”, atual Niterói, em 22 de novembro de 1573, como recompensa pelos serviços prestados à coroa portuguesa. O gesto dos portugueses foi muito mais estratégico do que por gratidão, pois com os indígenas na margem leste da Baía, estes ficavam responsáveis pela vigilância e proteção daquela área.
[7] Após serem expulsos de sua terra natal pela tribo dos rivais Tamoios, muito mais numerosos na região, transferiram-se para a capitania do Espírito Santo, retornando alguns anos depois, trazidos pelos conquistadores portugueses, para servirem de guias nas terras da região, que bem conheciam, na luta contra os franceses.
[8] É interessante o fato de que, apesar de Petrópolis ter a fama de Cidade Imperial, é Niterói que possui este título de nobreza, recebido em 22 de agosto de 1841, através do Decreto no 93.

Artigo Apresentado no Seminário Internacional de Turismo 2007, em Curitiba - PR

Piranguinho – MG, caminhando a pé-de-moleque rumo ao turismo sustentável [1]

Erick da Cunha Coelho Zickwolff
[2]


RESUMO

O trabalho tem como proposta analisar os fatores que fizeram com que a cidade sul mineira de Piranguinho se tornasse conhecida nacionalmente pelo título de “Capital do Pé-de-Moleque”
[3], e de que maneira a cidade vem utilizando este epíteto para se auto-promover e implementar a atividade do turismo no local.
Além disso, o autor propõe algumas atitudes que poderiam ser realizadas pelo governo local para a melhoria da infra-estrutura turística e para a real inserção do município na atividade turística.
Da origem da produção e comercialização do doce feito de amendoim e rapadura, por uma família que necessitava sobreviver às adversidades, até a aparição em programas televisivos, o artigo mostra como a cidade de Piranguinho, com menos de oito mil habitantes, utiliza o pé-de-moleque para fazer sua fama, atraindo mais visitantes, a cada ano, aos eventos que realiza, e como pode desenvolver o setor do turismo, de maneira sustentável, mantendo suas características e trazendo benefícios econômicos e sociais a seus habitantes.
Por fim, percebe-se que a cidade de Piranguinho pode, em parceria com as cidades do seu entorno, começar a desenvolver o turismo como fonte de geração de renda e inclusão social, dado o reconhecimento da importância desta atividade e a inclusão desta região no Programa de Regionalização do Turismo, como o “Circuito Caminhos do Sul de Minas
[4]”.
O artigo foi desenvolvido através de pesquisa bibliográfica, com a utilização de fontes primárias e secundárias, em sítios da internet, artigos e livros, além de visita feita pelo autor ao município de Piranguinho, em junho de 2007, e a realização de entrevistas com moradores, visitantes e representantes do
governo local.

PALAVRAS-CHAVE
Piranguinho – MG. Pé-de-Moleque. Desenvolvimento Sustentável. Eventos.

ABSTRACT
This script has the propose of analyzing the facts that made Piranguinho, a city in south Minas Gerais, has been knew as “National Pé-de-Moleque Capital”, and how the city has been using this title to promote and implement the tourism activity in that place.
Add to that, the author propose some attitudes that can be realized by the local government to the improvement of the tourist substructure and to the real insertion of the city in the tourism activity.
Since the beginning of the production of the peanut candy, until the apparition in some TV programs, the article shows how Piranguinho, with lass than eight thousand inhabitants, uses the “pé-de-moleque” to make its fame, attracting more visitors every year, to the events that realize, and how can develop the tourism sector, in a sustainable way, keeping the original characteristics and bring economical and social benefits to the local residents.
At last, is possible to see that Piranguinho can, in partnership with the cities next to it, start to develop tourism like a economic and social increaser, once the importance of that region has became recognized by the Federal Government in the Tourism Regional Program, like “South Minas Ways Circuit”.
The article was developed through a bibliographic research, using primary and secondary resources, in sites, articles and books, moreover the trip that the author did to Piranguinho City, in 2007 June, doing interviews with the citizens, visitors and local governors.

KEYWORDS
Piranguinho – MG. Pé-de-Moleque. Sustainable Development. Events.

INTRODUÇÃO
Hoje, com apenas 45 anos de existência como cidade emancipada, Piranguinho vive principalmente da agricultura, mas sem dúvida alguma, o produto que mais se destaca é o pé-de-moleque produzido artesanalmente, da mesma maneira que era feito no início.
O pé-de-moleque, doce a base de rapadura, possui uma importância muito grande para esta cidade, do sul de Minas Gerais. Esta união entre o doce e a cidade começou na década de 1930, quando uma moradora, necessitando buscar um meio de sobrevivência, começou a produzir pés-de-moleque utilizando uma receita de família.
Em um mundo globalizado onde as culturas, cada vez mais, sofrem influências externas, formando um amálgama de símbolos e ícones, lugares que possuem suas tradições intocadas acabam por se destacar. Neste caso, as receitas que passam de geração em geração, com seus segredos guardados a sete chaves, têm um papel primordial na hora da preparação dos pés-de-moleque de Piranguinho. Aliás, receitas de família são consideradas verdadeiros tesouros para os mineiros.
Porém apenas um atrativo, neste caso um patrimônio imaterial, o pé-de-moleque, não é suficiente para que uma localidade desenvolva plenamente sua atividade turística. Com uma área de aproximadamente 130 Km2, Piranguinho pode, e deve, se quer realmente se inserir no turismo, ampliar sua oferta, através do agroturismo e do turismo ecológico, já que possui na agricultura sua maior força produtiva e vastas áreas verdes que poderiam ser utilizadas para a prática de trilhas e observação de espécimes nativos. Tudo isto, claro, sendo realizado de maneira sustentável e organizada.
Assim, o que se pretende com o presente trabalho é analisar os fatores culturais e sociais que fizeram com que o doce pé-de-moleque se tornasse um ícone local e como vem sendo utilizado para promover e atrair, a cada ano, mais visitantes à cidade de Piranguinho. Também se pretende discutir maneiras para o município piranguinhense desenvolver, de forma sustentável, o seu turismo.
O método básico utilizado na composição do artigo foi a pesquisa bibliográfica, com utilização de fontes primárias e secundárias, além de visita realizada pelo autor, à cidade de Piranguinho, no dias 09 e 10 de junho de 2007, durante a realização da “Festa do Pé-de-Moleque – Piranguinho 2007”, aonde foram realizadas entrevistas com produtores locais de pés-de-moleque, moradores, visitantes e representantes do governo municipal. Deve-se citar o nome de Eugênia Pereira da Silva e sua família, que deram suporte e hospedagem ao autor, na cidade vizinha de Itajubá, para que estas entrevistas e a visita ao local da festa pudessem acontecer.

DESENVOLVIMENTO

DE UMA FERROVIA, NASCE UM POVOADO
No final do século XIX, quando o Brasil era ainda um império, governado por D.Pedro II, o café era o produto mais rentável para os cofres públicos, porém não era o único. Apesar de não atingir as cifras do café, outros produtos agrícolas, em sua grande parte voltada para o abastecimento do mercado interno, eram cultivados e necessitavam de uma rota de escoamento. Com o intuito de facilitar a distribuição de tais produtos foram instaladas, em algumas regiões do país, estradas de ferro que foram essenciais para a melhoria dos sistemas de comunicação e transporte.
Muitas regiões de minas gerais assumiram então novos contornos sociais, econômicos e políticos. Até meados do século XIX a região onde hoje se localiza a cidade de Piranguinho pertencia à Baronesa Leocádia de Lourenço e estava subordinada a São Caetano da Vargem Grande, atualmente município de Brazópolis. Por volta da década de 1880 a localidade passou a interessar às autoridades responsáveis pelo desenvolvimento do projeto da “Rede Mineira de Viação”. Assim começou o processo de construção do Ramal de Sapucaí, que ligaria as cidades de Itajubá e Santa Rita do Sapucaí.
O primeiro trecho da linha foi inaugurado em 1891, partindo de Soledade até Itajubá. Em 1892 foi a vez da estação de Piranguinho ser aberta ao funcionamento. Porém a construção desta estação, e de grande parte dos trilhos deste trecho da linha férrea, começou dez anos antes. Em 1882, foi instalada na região uma serraria para a preparação dos dormentes
[5] e a construção da estação.
Na época as matas da região eram fartas em madeira de lei, como o jacarandá, o jequitibá e a pereira, e estas eram perfeitas para a confecção de dormentes duráveis e seguros. O que efetivamente fez a construção deste trecho da ferrovia acontecer foi a parceria entre uma comissão de chefes do projeto e a Sra. Leocádia. Esta oferecia a madeira necessária às obras, sua retirada e preparo, bem como forneceria mão-de-obra e construiria um engenho de serra movido a água para o beneficiamento da madeira. Em contrapartida a comissão construtora forneceu o projeto das instalações, fez a gestão da construção do engenho e retificou o curso do Ribeirão dos Porcos, para o represamento de suas águas, permitindo o funcionamento do engenho. Por isso a região, à época, tornou-se conhecida como “Engenho da Serra”.
Foi justamente em torno deste engenho, das obras da ferrovia e da estação que surgiu um povoado, que foi crescendo na medida em que mais trabalhadores eram requisitados. As primeiras habitações foram barracos de madeira e casas de pau-a-pique construídas em torno do engenho para abrigar estes trabalhadores.
Hoje a antiga estação está descaracterizada e serve de moradia para uma família há mais de 37 anos. O leito da ferrovia também já não mais existe e hoje, em seu lugar, se encontra uma avenida. Os fundos da velha estação dão para a rodovia que liga o município de Piranguinho a Itajubá. Os trilhos foram removidos em 1991.

A CIDADE DE PIRANGUINHO – MG
A cidade de Piranguinho está situada na região montanhosa do sul de Minas Gerais, mais especificamente na Serra da Mantiqueira, possuindo uma altitude média de aproximadamente 1150 metros e temperatura média anual em torno dos 17º Celsius. Localiza-se entre três dos principais pólos econômicos do país, as cidades de Belo Horizonte, Rio de Janeiro e São Paulo, das quais dista 436km, 315km e 270km, respectivamente.
Com aproximadamente oito mil habitantes e cerca de 130km2, a cidade possui uma taxa muito baixa de ocupação da terra, com uma média de 61 habitantes por quilômetro quadrado. Quando confrontada com uma cidade de área aproximada, como é o caso de Niterói, na Região Metropolitana do estado do Rio de Janeiro, que possui área de 140km2 e quase quinhentos mil habitantes, Piranguinho parece um “deserto”. Niterói possui uma média aproximada de 3571 habitantes por quilômetro quadrado.
Foi apenas em 1962 que Piranguinho se emancipou de Brazópolis e foi elevada a categoria de cidade. Seu nome vem do tupi e possui duas versões distintas quando traduzidas para o português. Na mais difundida, significa “peixe pequeno”. Porém, os estudiosos da língua indígena, nos últimos anos vêm afirmando que a tradução mais correta seria “Pequeno Rio Vermelho”.
Sua economia hoje se acha atrelada, principalmente, a produção agrícola, sendo o milho, a mandioca e o café os principais produtos em quantidade produzida. Já em termos financeiros, os melhores rendimentos vêm da cana-de-açúcar, do tomate de mesa e da mandioca. Há outras hortaliças, grãos, raízes e frutas que também são cultivados na região, tal qual o alho, arroz em casca, banana, feijões do tipo 1 e 2, laranja, cebola e em pequena quantidade, comparativamente, amendoim. Este amendoim plantado na região abastece algumas das barracas dos tradicionais pés-de-moleque da cidade de Piranguinho.
Pequenas indústrias também podem ser encontradas no município, sendo os produtos alimentícios, as bebidas e a fabricação de produtos minerais não-metálicos as principais produções locais. Segundo o IBGE, em pesquisa realizada no ano de 2002, a criação de animais também possui papel relevante na economia local. As populações de galináceos com cerca de 47.640 aves e a de bovinos, com 9.074 cabeças são as principais. Há também criações de suínos, eqüinos, muares, caprinos, coelhos e ovinos. Por possuir dois rios, Piranguinho também apresenta a atividade da pesca, que poderia ser explorada turisticamente, já que muitas pessoas gostam de praticar a pesca esportiva.
Atualmente Piranguinho vem buscando no turismo uma alternativa para aumentar as arrecadações municipais. Entretanto, pode-se dizer que a atividade turística local deixou de engatinhar a pouco tempo e está, neste momento, dando os seus primeiros passos. Utilizando o doce que se tornou símbolo local, o pé-de-moleque, a cidade começou a montar alguns eventos utilizando este doce como temática. Para que a cidade possa colher frutos mais maduros da atividade turística, se faz necessário algumas mudanças e incrementos na infra-estrutura local.

CHUTANDO AS DIFICULDADES COM PÉS-DE-MOLEQUE
Na década de trinta do século passado, na extinta estação ferroviária de Piranguinho, uma família que perdeu seus bens começou a produzir pés-de-moleque para tentar recomeçar a vida. Esta é a família Torino, e a precursora e dona da receita original, que é utilizada até hoje nos doces da Barraca Vermelha, a mais antiga e tradicional da cidade, foi Matilde Torino. Ela preparava o doce e seus filhos vendiam-nos na estação, para os viajantes de passagem pelo local.
O marido de D. Matilde, o senhor Modesto Torino, assumiu o controle dos horários das locomotivas e a família, que não mais possuía local próprio para morar, passou a residir em uma pequena habitação dentro da própria estação de trens.
A filha caçula do casal, Alcéia, que cresceu nesta “atmosfera açucarada”, quando adulta, apostou na iniciativa da mãe e começou a realizar, mesmo sem saber, o marketing do produto. Montou uma barraca na rodovia BR-459, que corta a cidade de Piranguinho e a liga a outros municípios da região, como Itajubá. Além disso, colocou meninos para vender o doce nos trens, não mais apenas na estação, mas durante as viagens.
Com o dinheiro da venda dos pés-de-moleque, D. Alcéia já viajou para a Europa e Estados Unidos e recomprou a casa perdida pelos pais, quando era ainda uma criança. Além disso, preocupada com a concorrência, ela patenteou a marca “Pé-de-Moleque de Piranguinho”. Hoje a barraca está mais moderna, mas o processo de produção continua artesanal como sempre.
Os pés-de-moleque da Barraca Vermelha foram muito elogiados e fizeram grande sucesso na Comdex, uma das maiores feiras norte-americanas de informática e que possui versões nacionais, no Rio de Janeiro e em São Paulo. Para esta ocasião foi utilizada uma embalagem na forma de um pequeno computador, para cada doce. Mas há muito tempo este doce já vem sendo elogiado, e até mesmo por pessoas públicas, como o ex-presidente Juscelino Kubitschek e o escritor Carlos Drummond de Andrade. Este último até escreveu um bilhete com elogios ao doce, cujo original foi perdido, mas que possui uma foto publicada no sítio da internet
http://www.barracavermelha.com.br/, a tradição já chegou ao mundo virtual.
Há alguns anos a revista Globo Rural fez uma entrevista com D. Altéia Torino, de várias páginas, falando sobre a história do doce que faz parte de sua família. Ana Maria Braga, apresentadora do programa Mais Você, que vai ao ar nas manhãs da Rede Globo, de segunda a sexta, convidou-a para figurar no programa que foi um sucesso. Com isto tudo, o nome de Piranguinho vai sendo levado cada vez mais longe.
Acontece que depois de perceber o sucesso crescente da Barraca Vermelha, outras famílias da cidade começaram a montar suas barracas, e uma competição por clientes e reconhecimento começou. Cada família possui sua receita própria e nenhum pé-de-moleque é igual ao de uma barraca concorrente. A segunda barraca a surgir foi a Azul, comandada hoje por Anunciata Passos de Carvalho e seus irmãos, filhos do fundador desta, o Sr. Otávio Antunes de Carvalho, em 1960.
De lá para cá inúmeras outras barracas foram surgindo, Marrom, Verde, Laranja, Prata, Branca e Amarela. Esta última também se destaca na região, principalmente durante a Festa do Pé-de-Moleque, que chegou a sua quarta edição neste ano de 2007. Seu dono é o Sr. José Carmo da Silva, o “Zezinho”. Ele, seus familiares e empregados são os responsáveis pela confecção do maior pé-de-moleque do mundo, que é preparado especialmente para a festa e depois cortado e distribuído entre os participantes da mesma.
A maioria destas barracas se localiza na frente das casas das famílias que trabalham na produção do doce. No quintal das casas há também pequenas fábricas onde se descascam, limpam, torram e moem os amendoins, com a utilização de máquinas modernas. Essas máquinas substituem, por exemplo, o tijolo que era utilizado para retirar a pele dos amendoins. Com isso eles agilizam a produção e a venda de seus produtos.
Assim é que surge e se consolida a tradição da cidade de Piranguinho e seus “afamados e tradicionais pés-de-moleque”, como diz o panfleto elaborado pela Barraca Vermelha para a propaganda de seu produto.

O DOCE DE AMENDOIM E RAPADURA
O pé-de-moleque é um doce tradicional da culinária brasileira. Ele é feito através da mistura de amendoins torrados, descascados e macerados que posteriormente são misturados a uma rapadura previamente derretida. Da boa qualidade desta rapadura dependerá a cor que caracteriza o doce. A mistura é lentamente batida em fogo brando e alguns amendoins inteiros são acrescentados
[6]. Quando é atingido o ponto prévio de cristalização a mistura deve ser, rapidamente, distribuída sobre uma superfície fria e lisa de pedra, geralmente é utilizada uma bancada de mármore. Esta é a forma tradicional e artesanal de se fazer o pé-de-moleque.
Com os avanços da industrialização da produção de alimentos, doces similares começaram a ser produzidos e passam a ser denominados como pés-de-moleque também, porém são bem diferentes em relação à aparência, à textura e ao sabor. A mistura destes é feita com açúcar derretido em que são acrescentados aos amendoins inteiros, formando um doce rígido, e que é reconhecido como pé-de-moleque nas grandes cidades e metrópoles brasileiras.
Para encontrar o tradicional pé-de-moleque é necessário procurar em pequenas cidades do interior do país, principalmente no nordeste, em São Paulo e Minas Gerais. A mais famosa dessas pequenas cidades é justamente Piranguinho. Não é estranho, portanto, que ela tenha recebido o título de “Capital Nacional do Pé-de-Moleque”.
Há duas versões para a origem do nome deste doce. A primeira diz que a aparência do doce, depois de pronto, se assemelha na cor e nos calos, aos pés dos moleques que corriam descalços pelas ruas de terra batida das cidades do interior. Já uma segunda versão fala das cozinheiras das fazendas que, enquanto mexiam seus grandes tachos no preparo da massa, eram assediadas pelas crianças das cercanias que imploravam por um pouco do doce. As cozinheiras então diziam a eles: - Pede, moleque!
Seja lá qual for a verdadeira origem do nome, o que importa é que este é um dos doces mais apreciados do país, sendo bastante consumido, principalmente, nas festas juninas e julinas Brasil afora.

O PÉ-DE-MOLEQUE COMO ATRATIVO TURÍSTICO
Piranguinho vem sendo chamada de Capital do Pé-de-Moleque, e isto se deve à produção local deste doce, de maneira artesanal, desde meados da década de 1930. Há alguns anos a cidade começou a promover uma festa dedicada exclusivamente ao seu mais famoso produto. A Festa do Pé-de-Moleque, que neste ano de 2007 teve sua quarta edição, está se tornando cada vez mais famosa na região sul de Minas Gerais, e atraindo mais e mais visitantes nos seus quatro dias de duração.
Nesta festa, todas as coloridas barracas de pé-de-moleque da cidade montam pequenos stands na Praça da Matriz, no centro da cidade, aonde vendem o produto e outros doces derivados como o bolo de amendoim e o pavê de pé-de-moleque. Também acontece, ao mesmo tempo, uma grande festa junina que faz um resgate da cultura local com apresentações de danças típicas e quadrilhas, além da presença de barraquinhas de brincadeiras (como “boca do palhaço” e “derruba latas”); de cachaça e quentão; de salgados e doces juninos (pastel de milho, doce de abóbora) e o pau-de-sebo, que não pode faltar em uma verdadeira festa junina.
O ponto alto da festa é a confecção e distribuição do maior pé-de-moleque do mundo. Na edição deste ano, realizada entre os dias 07 e 10 de junho, foi feito um doce de 12 metros de comprimento por 1 metro de largura. O responsável por essa façanha digna do Guinness Book of Records
[7] , é o Sr. José do Carmo da Silva, conhecido na cidade como “Zezinho”, e sua família. Eles são os donos da Barraca Amarela, que já possui três filiais espalhadas pela cidade.
Nas três primeiras edições da Festa de Pé-de-Moleque, que tinham a duração de três dias, um a menos que a de 2007, a média de visitantes durante o período chegou a duas mil pessoas, vindas principalmente das cidades próximas, como Piranguçu, Itajubá e Pouso Alegre. Os dados da festa deste ano ainda não foram divulgados, mas em entrevista realizada com Ana Lúcia Romancini, Secretária de Educação, Lazer e Turismo do município, o número de visitantes certamente superou a média dos anos anteriores.
Outro evento que vem crescendo a cada nova edição é o Enduro a pé-de-moleque, que utiliza o nome do doce, de uma maneira divertida. Na edição de 2007, cinqüenta equipes participaram das caminhadas por trilhas que cortam o município. Além de terem de realizar o percurso no menor tempo possível, as equipes ainda precisam enfrentar algumas etapas de rapel e plantar árvores em áreas determinadas. Na inscrição é necessária a doação de um quilo de alimento não perecível que, posteriormente, será doado para as famílias mais economicamente necessitadas da região. Foram 290 quilos de alimentos arrecadados e 60 árvores plantadas no percurso. Como não podia deixar de ser, na linha de chegada os participantes podem saborear o tradicional pé-de-moleque local.
Isto demonstra a preocupação dos organizadores do evento, a ONG Primatoos, apoiada pela prefeitura piranguinhense, com a natureza e a sociedade local, e serve como exemplo para que outros eventos possam também contribuir para o desenvolvimento da sustentabilidade do meio ambiente.
Além desses dois, outros eventos fazem parte do calendário oficial da cidade. Em fevereiro a cidade organiza seu carnaval, no trevo da BR-459, que é considerado um dos melhores de toda a região. Blocos da cidade saem às ruas e um palco é organizado para shows de axé music, samba e pagode. Outro evento é a Barqueata Ecológica no Rio Sapucaí, com objetivo de conscientizar os participantes sobre os cuidados com o meio ambiente.
Em março e outubro a cidade realiza a Festa do Peão de Boiadeiro de Piranguinho, no Centro Regional de Rodeio Paulo Mas, reunindo peões do país inteiro. É a festa de peão mais famosa de toda a região e a arena tem capacidade para alguns milhares de expectadores. Em março de 2007 foi realizado o primeiro Campeonato de Skate de Piranguinho, na pista “Flávio Henrique de Mendonça” , recém inaugurada em fevereiro e que contou com a presença de skatistas profissionais de várias localidades.
Em julho acontece o Encontro de Jipeiros, Gaioleiros e Motociclistas, que percorrem algumas trilhas da região. Outro evento do mês de julho, e que é considerado o mais importante, devido ao número de participantes, é a Festa da Padroeira Santa Isabel, com quermesse e shows na Praça da Matriz. São Benedito também tem uma festa realizada na cidade, no mês de maio, o que demonstra que a cidade possui um veio de turismo religioso que pode ser explorado.
O turismo de evento se mostra o mais desenvolvido no município de Piranguinho, porém há outros tipos de turismo que podem ser explorados na região, além de fazer necessária a melhoria da infra-estrutura local.

AÇÕES PARA O INCREMENTO DO TURISMO LOCAL
Levando em consideração o tamanho da população de Piranguinho e a arrecadação da prefeitura através de impostos, que segundo dados da Secretaria de Estado da Fazenda, foi de R$336.208,00 no ano de 2003, é essencial para que o turismo venha, de fato, a ser inserido na realidade local, a busca por parcerias com os municípios vizinhos e que também fazem parte do Circuito Caminhos do Sul de Minas.
A principal deficiência do local em relação ao turismo é a quantidade dos meios de hospedagem. A cidade só possui uma pousada, a Pousada do Léo, que não é suficiente para acomodar todos os visitantes do local, que muitas vezes, dependendo dos eventos de que participam, têm de buscar em outras cidades um lugar para se hospedar.
Seria interessante para a cidade, portanto, a construção de mais algumas pousadas ou até mesmo de um hotel, para atender a uma demanda crescente de turismo. O treinamento e capacitação de mão-de-obra para o turismo também se faz necessária e pode aproveitar os habitantes locais, inserindo-os em uma atividade econômica e contribuindo para o crescimento de sua qualidade de vida.
Há também a possibilidade da inserção, em Piranguinho, do turismo ecológico e do agroturismo, devido aos grandes espaços naturais e agrícolas do município. Pela sua localização próxima ao eixo Rio - São Paulo, dois grandes centros urbanos muito conturbados e estressantes, estes dois tipos de turismo certamente teriam uma demanda interessada em viver um contato maior com a natureza e com a tranqüilidade da vida campestre.
Outra opção interessante é a mobilização de Piranguinho e de suas cidades vizinhas, pertencentes ao Circuito Caminhos do Sul de Minas, que poderiam integrar de maneira real, formando uma espécie de cluster, para o desenvolvimento efetivo do turismo, explorando, cada uma, seus maiores potenciais e aumentando sua arrecadação proveniente da atividade turística, podendo esta ser utilizada para o desenvolvimento sustentável do turismo, melhorando as condições ambientais e sociais da região.

CONCLUSÃO
Tendo sido apresentados os resultados e argumentos da pesquisa realizada para o desenvolvimento deste trabalho, o que se pode inferir sobre este é que o povo brasileiro, através de sua criatividade, consegue “driblar” as dificuldades que a vida apresenta, e através de idéias simples, como a confecção e comercialização de um doce caseiro, pode chegar a transformar a história de uma cidade, tornando-a famosa e contribuindo para o seu desenvolvimento econômico, ambiental e social.
Percebe-se também que o turismo pode contribuir, desde que desenvolvido de forma organizada e sustentável, para que um município, ou mesmo uma região, incremente a sua arrecadação e invista o resultado desta na melhoria da condição de vida dos habitantes, além de torná-la cada vez mais atrativa para os seus turistas e visitantes.
Minas Gerais, segundo o Chef de Cousin Alex Atala, possui uma culinária comparável a de países como França e Espanha, no que tange à diversidade, sabor e qualidade. Assim, outras cidades podem, a exemplo de Piranguinho, começar a trabalhar suas especialidades gastronômicas, e a partir daí, iniciar o desenvolvimento do turismo local, com o foco na melhoria da condição de vida dos seus habitantes e daqueles potenciais visitantes que certamente terão deliciosos motivos para conhecê-las.
É sempre interessante lembrar que, cada vez mais, o turismo vem sendo discutido de maneira a se desenvolver de forma sustentável, para que não só a população atual de um lugar possa se beneficiar dele, mas também para que as futuras gerações tenham este direito. Os atrativos culturais, sejam eles materiais (igrejas, museus, casarões) ou imateriais (músicas populares, receitas de doces típicos), e os atrativos naturais, devem ser preservados e bem cuidados. Aqueles municípios que seguirem esse modelo, com certeza, prolongarão os efeitos positivos do turismo por muitos anos.

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DUARTE, Marcelo. O Guia dos Curiosos - Brasil. 2ª Edição – São Paulo: Companhias das Letras, 2001.
MINISTÉRIO DO TURISMO. Roteiros do Brasil: Programa de Regionalização do Turismo – Diretrizes Políticas. – Brasília, 2004.
OMT, Turismo Internacional: Uma Perspectiva Global. 2ª Edição – Porto Alegre: Bookmann, 2003.
ZICKWOLFF, E.C.C. A Música Caipira Que Virou Monumento, Um Menino Que Vende o Turismo em Ouro Fino – MG. Anais do Seminário Internacional de Turismo. Turismo, Associativismo e Desenvolvimento Regional, Curitiba, setembro, 2006.
http://pt.wikipedia.org/wiki/Pé-de-moleque, em 08 de junho de 2007.
http://pt.wikipedia.org/wiki/Piranguinho, em 10 de junho de 2007.
http://www.barracavermelha.com.br/, em 28 de junho de 2007.
http://www.bussolanet.com.br/cidades/inicial.asp?id=126, em 10 de junho de 2007.
http://www.descubraminas.com.br/destinosturisticos/hpg_municipio.asp?id_municipio=242, em 08 de junho de 2007.
http://www/.eptv.globo.com/caipira/interna.asp?ID=16306, em 08 de junho de 2007.
http://www.indi.mg.gov.br/municipios/m51008.htm, em 08 de junho de 2007.http://www.prefeiturapiranguinho.com.br/
[1]Trabalho orientado pela Professora Valéria Lima Guimarães , da Universidade Federal Fluminense – RJ.
[2]Bacharelando em Turismo pela Universidade Federal Fluminense – 7º período. E-mail: erickturismo@hotmail.com . Membro do Entretere, Núcleo de Pesquisa e Extensão em Turismo – UFF.
[3]Esta denominação pode ser encontrada no livro “O Guia dos Curiosos – Brasil”, na seção de geografia, do autor Marcelo Duarte.
[4]O Circuito Caminhos do Sul de Minas, do Programa de Regionalização do Turismo, é composto, além de Piranguinho, pelos municípios de Brazópolis, Conceição das Pedras, Cristina, Dom Viçoso, Itajubá, Maria da Fé, Pedralva, Piranguçu, São José do Alegre e Wenceslau Brás.
[5] Travessas de madeira aonde se assentam as barras de ferro que prendem as rodas dos trens na linha férrea.
[6] Na realidade existem dois tipos de pés-de-moleque, um com acréscimo de amendoins e outro que lembra uma paçoca, pois não recebe a adição dos amendoins inteiros.
[7] Livro de origem inglesa em que são registrados os maiores feitos do ser humano e da natureza, em forma de recordes.

segunda-feira, 26 de novembro de 2007

Paulo Coelho

Estou lendo mais um livro de Paulo Coelho, Histórias Para Pais, Filhos e Netos. Neste livro o autor reúne pequenos contos e historietas, dele e de diversos autores, de várias partes do mundo. Já li 14 livros dele, e dois sobre ele, e sem vergonha nenhuma, tiro o chapéu para o cara. Se não possui um português digno de Machado de Assis, o Imortal da cadeira número 1 da ABL, ao menos é um bom contador de histórias e, muito mais que Machado, sem tirar uma lasca da genialidade deste, é o autor que mais difunde a língua potuguesa no mundo, estando entre os 10 mais vendidos no mundo durante vários anos. Não há dúvidas de que ele é o brasileiro mais influente da história do país no exterior, mais do que qualquer presidente, cantor, ator ou jogador de futebol. São 162 países onde seus livros foram publicados. Ou seja, uma pessoa de quem deveríamos nos orgulhar, mas, infelizmente, na maioria dos lugares em que digo admirar, tanto o autor, que compôs com Raul Seixas alguns dos maiores Rocks que o país já viu, quanto sua obra, que deixa a desejar algumas vezes no que diz respeito à gramática, eu admito, mas que sem dúvida tem sua importância tanto espiritual quanto literária, muitos que desconhecem sua obra escancaram suas bocarras para falar mal dele. Para aqueles que nunca leram um único livro do autor e gostam de criticá-lo, aqueles que não gostam de jiló e nunca provaram o gosto, experimentem ler Verônica Decide Morrer, Monte Cinco, Maktub ou Diário de Um Mago. Não irão se decepcionar. Qualquer um deles é um bom passo para começar a ler a obra deste, que pode não ser o "rei" do português, mas que sem dúvida nenhuma, é genial. Antes de mais nada ele é o maior marqueteiro do país, e isso no bom sentido. Um homem que enriqueceu se utilizando de uma inteligência privilegiada. Não é a toa que passei a usar o sobrenome Coelho, no lugar do Zickwolff, uma singela homenagem ao grande escritor, Paulo Coelho. Um abraço do Erick Coelho, que pretende um dia vender tanto quanto o famoso xará de sobrenome!!!

domingo, 25 de novembro de 2007

Planejar, impreciso...

É, eu sei que havia dito que escreveria um texto por dia, foi isso o que planejei, mas , como podem perceber, nem sempre aquilo que planejamos, de fato, acontece. Está certo que, planejando, as coisas têm mais chance de se concretizarem. Mas, algumas vezes, nem todo o planejamento do mundo pode, com certeza, acarretar no sucesso de uma empreitada. Sun Tzu, no seu Arte da Guerra, já dizia, todo o planejamento deve ser repensado no momento em que o inimigo é, de fato, avistado. Organizar uma estratégia dentro de um escritório é muito diferente de, na prática, face a face com o rival, realizá-la. E é assim com muitas coisas em nossas vidas. Quantos sonhos, quantos planos, quantas decepções enfrentamos pois, após pensarmos tanto em determinadas situações, o que idealizamos não passou de devaneios e a realidade foi cruel e nos deixou a ver navios? Por isso é muito importante pensamos em quanto tempo devemos passar pensando na vida, refletindo, traçando metas, e quanto tempo devemos usar para, de fato, agirmos. Eu queria escrever aqui uma vez por dia, mas a vida não permitiu que assim fosse. Mas também não será por isso que deixarei de escrever. Se o plano original falhou, usemos o plano B, e se não tivermos este na manga, improvisemos. Só não podemos deixar de tentar. Se hoje não deu, o amanhã virá. Se não houve vitória, guardemos os fogos de artifício para a próxima partida. Se a morena não te deu bola, lembre-se que as louras também existem. Se faltou um ponto para passar direto, a prova final serve para isso mesmo. Só não se desespere, afinal , o que aconteceu, aconteceu. O desespero e a angústia não vão fazer o tempo voltar. Ao invés do lamento, inicie um novo plano, ou simplesmente aja. Não cultive cravos de derrota no campo do seu peito, prefira as rosas da esperança.

sexta-feira, 23 de novembro de 2007

O Segundo é Poesia

Conforme prometido, aí vai o segundo texto do dia, é uma pequena poesia, escrita há pouco mais de um ano, que retrata um certo período da minha vida, a minha luta contra a Síndrome do Pânico. É engraçado, hoje, após ter vivido o turbilhão que este mal causou na minha vida, perceber que a máxima, "Há males que vêm para bem", é extremamente real e válida. Hoje, após caixas de antidepressivos e calmantes e de muito tempo de análise, sou uma pessoa melhor, no sentido de aproveitar melhor o que a vida tem para oferecer. Não sou nenhum herói, e confesso que não me sinto responsável por nenhuma melhoria significativa em prol do mundo ou da humanidade, mas me sinto um ser-humano mais completo, mais capaz de buscar sonhos que antes não seriam palpáveis, sou mais eu. Já dizia o filósofo Sócrates: "Conhece-te a ti mesmo". E é isso que eu venho fazendo desde o diagnóstico da doença, conhecendo o Erick, ou melhor, conhecendo aquela pessoa que foi batizada com este nome, que habita o corpo concebido pelos meus pais. Essa conversa está ficando meio metafísica, não era minha intenção, aliás, o que eu havia prometido era apenas uma poesia. Como compensação pelo abuso da sua paciência, vou postar logo dois poemas, da mesma época, escritos no mesmo dia.

A Dor de Ser

A dor de quem não sente dor
O medo de estar no meio do nada
Nadando em um oceano obscuro
A morte rondando o pensamento
Batendo na porta a cada momento
O vazio profundo chamando meu nome
O sabor amargo do antidepressivo
A cabeça voando na onda do calmante
O amante abatido na caça
O peso dormente da própria carcaça
Desgraça de vida insanamente maravilhosa
Maravilha de vida desgraçadamente insana
Que horas serão quando eu já não for?
Cadê você que prometeu me dar a mão?
Só sinto o vazio da sombra do abajur
E se tento fugir, sem saber de que,
Estou intrínsecamente preso em mim.

Crise

O peito me dói dormente
A mente me agride sem pena
Apenas quero não ser eu
Eu quero deixar tudo para trás
A paz de ser nada no mundo
Afundo a cabeça no peito
Aceito a dor que me inunda
Profunda vontade de gritar
Saltar do trem em movimento
No momento certo, incerto.

Primeiro de Hoje

Estou devendo um texto ao meu blog, o combinado, comigo mesmo, é escrever um por dia, ontem não postei, assim sendo, hoje serão dois. Este primeiro, não tem tema específico, nem discussão mais aprofundada sobre nada. Tem apenas um conselho para qualquer um que esteja assim, meio estressado, escreva num blog, é uma terapia muito boa, eu que o diga. Quer dizer, não precisa ser em um blog, tem pessoas que cultivam o hábito de escrever em diários, o que eu acho fantástico, mas nunca fiz. Preguiça? Sim, em parte. Além do preconceito de achar que isso é coisa de mulher, besteira. Se for coisa de mulher é digno de palmas, de veneração. Se ouvíssemos mais as mulheres acredito que o mundo seria um lugar melhor para se viver. Aliás, quantas coisas deixamos de fazer por conta do que pessoas, que nada têm a ver com nossas vidas, vão pensar sobre tal ato. Nos policiamos contra nós mesmos, servimos de espiões para quem só quer saber de criticar o que fazemos, ou não. O grupo inglês The Smiths trata disso em uma de suas canções, "Why do I give valuable time, to people who don´t care if I live or die ?", sim, eu também me pergunto, por que damos tanta importância para o que essas criaturas pensam e dizem? Vivamos para nós. Pode soar um tanto quanto individualista, mas se não vivermos para nós mesmos, em primeiro lugar, não seremos nada mais do que meros escravos, seja lá de quem for. Se não podemos nos ajudar, certamente, não poderemos ajudar mais ninguém. Se não resolvermos nossos problemas, não poderemos nunca estender a mão para outrem. Jesus disse, "amai ao próximo como a ti mesmo", e eu concordo com este pensamento, mas é aí que mora o perigo: o quanto eu me amo? O quanto eu me valorizo? O quanto eu faço por mim, diariamente? Não precisamos ser egoístas, não devemos ser egoístas, mas precisamos estar fortes, para podermos suportar nos ombros, se necessário for, o peso de um amigo ferido. Ficou muito sério esse aqui, não? Talvez o próximo seja mais light. Talvez uma poesia, quem sabe?

quarta-feira, 21 de novembro de 2007

Filosofando I

Um dia desses, indo descontar o cheque do meu salário no Banco do Brasil, que convenhamos, tem o pior atendimento que um ser humano pode merecer, estava ouvindo Chico Buarque no meu Discman e lendo um livro sobre o mais novo fenômeno da internet, o Second Life, quando fui inquirido por um companheiro de fila sobre onde havia adquirido tal compêndio. Daí para um bate-papo "filiosófico" foi um pulo. O camarada é músico e está criando uma banda virtual para tocar no Second Life e eu estou lendo sobre o assunto pois ele será abordado, em parte, na minha monografia. O camarada, que devia ter seus cinquenta e poucos anos começou a falar de genética, disse que em um futuro próximo as pessoas vão poder, devido à mudanças no DNA, perceber faixas de sons inimagináveis, e que as músicas que hoje são consideradas obras primas, não serão nada mais que pinturas rupestres comparadas com um Van Gogh ou um Dali. Por aí já dá para perceber o nível da conversa. Dentre muitas coisas interessantes que ele falou, uma me chamou mais atenção. Não sei se a idéia é original, ou se ele copiou de alguém, mas ele disse que, na realidade, só existe uma questão filosófica relevante: "O suicídio"!!! Ou seja, o único pensamento que vale a pena martelar em nossas cabeças é: devo continuar vivendo e sofrendo, amando e chorando, sorrindo e doendo, até ver onde tudo isso vai dar ou devo acabar com isso tudo, parar de sentir tudo isso, antes que isso acabe comigo?!?! Disso tudo eu tiro um ensinamento, apenas uma mensagem, não há que se preocupar com céus ou infernos, com Deus ou com o Diabo, com anjos ou espíritos. De uma maneira ou de outra, agora ou em breve, se algo tiver que ser revelado, será. Não gastemos nosso tempo pensando no que ninguém tem certeza, a vida é uma só, e só pode ser vivída enquanto estamos vivos. Meio imbecíl não? Mas tem muita gente que não enxerga isso!!! Um abraço a quem tenha aguentado meu blá blá blá até agora, vou comer que estou com fome, sem medo da gula e depois me jogar na cama e me abraçar com a preguiça, que eu mereço, ralei até agora há pouco e quero esticar as pernas!!!

terça-feira, 20 de novembro de 2007

Agora achei um bom lugar!!!

Finalmente descobri esta maravilha, espaço suficiente para ficar divagando e filosofando, sem me preocupar em medir palavras. Escrever, que dom magnífico poder traduzir em palavras todos os devaneios que nos enchem a cabeça e nos botam quase loucos. Poder falar de amor e morte, de vida e sonho, de tudo e nada, só assim, por falar. E para aqueles que quiserem ler, que alegria maior há de ter um escritor? Que maravilha será ter gente concordando com que eu penso, e melhor ainda será ver gente dizendo o contrário, me desdizendo, me desafiando, me abrindo os olhos para um ponto de vista antes desconhecido. O sonho da minha vida é escrever, qualquer coisa, uma poesia, um conto, capítulos de um livro, uma novela, ou apenas palavras soltas que não queiram dizer nada, dizendo somente o que são. Na caminhada, que espero ser longa, já tenho três artigos científicos publicados, e me orgulho de cada um deles, como se fossem filhos, aliás, são sim, frutos da minha imaginação, palavras que brotaram de uma cabeça em ebulição. Escrever sobre escrever, a mensagem usada para falar sobre a mensagem, sem preocupação com quem vai ler. Será? Mentira, não se escreve por se escrever, quem não quer ser lido, não escreve. Até aqueles que dizem, "é coisa minha, bobagem, não quero que ninguém veja isso", no fundo torcem para que, durante um descuido, sem querer querendo (parafraseando o imortal Roberto Bolaños em seu "majestoso" personagem Chaves), alguém leia e depois venha correndo dizer que gostou, ou não, do que estava ali escrito. Bem, a noite avança e a hora passa, amanhã de manhã eu tenho aula e, para uma primeira experiência, até que o texto valeu a pena. Vou ficando por aqui, que amanhã é outro dia, um abraço pra Maria e até o sol raiar.