quarta-feira, 24 de junho de 2020

O Velho

Ele estava ali, parado, sob seus cabelos brancos e ralos, equilibrando-se a cada solavanco mais intenso do carro do metrô. Ao aproximar-se da próxima estação, o trem diminuiu de velocidade até estacar e, logo, suas portas se abriram. Os que embarcavam e desembarcavam simplesmente não o viam. Esbarravam com força e indiferença em seu corpo esquálido e ele, na loucura que brilhava em seus olhos e irrompia de seus lábios ressequidos através de palavras ininteligíveis parecia, de fato, não estar lá. Mas estava, eu posso garantir. Eu o notei, vestindo aquelas calças alguns números acima dos necessários para abrigar suas trêmulas e magras pernas, cansadas de o transportar por tantos e tantos anos. Um fantasma ainda vivo... Um ser humano... Um completo desconhecido... Um irmão... Parece que as pessoas perderam a compaixão. Aliás, será que algum dia a tiveram?

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