quinta-feira, 23 de julho de 2020

O Novo Normal

O que é "normal"? O que era "normal"? O que será o "novo normal"? A normalidade é um conceito, muitas vezes, ligado ao modo como uma determinada cultura (seus membros e a sociedade erigida por eles) vive e se expressa. Estar "fora do normal" é ser considerado um "louco" ou um "marginal". Mas, será que a "loucura" não é o melhor remédio para a dita "normalidade"? Senão vejamos: É "normal", ou ao menos era, para um sem número de pessoas, gastar oito horas de um dia (pelo menos) empenhados em "trabalhar", em troca de um salário que permitisse atender às suas necessidades e seus desejos. É "normal" contrair empréstimos financeiros para comprar bens supérfluos ou receber a prestação de serviços que em nada, ou muito pouco, alteram a vida de uma pessoa de modo relevante. "Normal" é utilizar drogas, lícitas ou ilícitas. "Normal" é se ver obrigado a estar vinculado à uma instituição financeira que lucra com seus rendimentos, muito mais do que você mesmo, cobrando taxas e juros astronômicos. É "normal" pautar a ética de vida em alfarrábios milenares e completamente incoerentes com a vida contemporânea, supondo milagres jamais comprovados, realizados por seres imaginários, como sendo a verdade mais absoluta. É "normal" ajudar um cão faminto na rua, mas desviar o olhar quando esta fome atinge um outro ser humano (o primeiro é um coitado, o segundo um vagabundo). É "normal" acreditar que os livros de História escolares trazem narrados os fatos da maneira como se deram, contados pelos "heróis" em detrimento dos "bandidos". É "normal" julgar os outros, pela sua cor de pele; pelo seu percentual de gordura; pela sua "beleza"; pelas suas posses materiais; pela sua fé, ou pela falta dela; pela maneira de se vestir; pela forma como amam... Não é muito difícil perceber que o "normal" é, em realidade, deveras patológico. Pierre Weil, Jean-Yves Leloup e Roberto Crema, dentre outros, defendem a ideia de "Normose". A normalidade patológica. A normalidade que adoece o próprio ser humano. A normalidade que agride o mundo e a natureza. A normalidade que separa e diminui o outro. Muitos se mostram preocupados com a maneira como a vida será daqui em diante. Muitos acreditam que esta é a hora de se doar cada vez mais aos outros, alimentando o altruísmo, pensando na coletividade humana. Ao buscarmos ajudar o outro, tornamo-nos seres melhores nós mesmos. Uma evolução conjunta... Mas, e provavelmente é a grande maioria, muitos se preocupam em não poderem mais desfrutar da antiga "normalidade" ou "normose": encher a cara de cerveja, destratar os outros, assediar mulheres, dar carteiradas, subornar, roubar, fazer piadas racistas, homofóbicas, se achar melhor que os outros, brigar pelo futebol, usar a buzina por qualquer motivo, fazer ultrapassagens proibidas, furar fila, rir da desgraça alheia, fofocar... Tudo aquilo que "normalmente" faziam... Será que não há, realmente, nada de maior? Será que é, realmente, disto que sentem tantas saudades? Será que ser "normal" é tão bacana assim? Quão "normal" você é? Quão "normal" você quer ser? Isso, só você sabe, só você pode saber...

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