quinta-feira, 23 de julho de 2020

Pós Pandemia

Será que seremos pessoas melhores depois da quarentena? Depende de quem é a pessoa em questão. Há aquelas que, certamente, serão seres humanos melhores depois de passar por tudo o que o Coronavírus proporcionou à grande parte da humanidade (medo, receio, pânico, frustração, dor, tristeza, depressão, solidão, enclausuramento, desemprego, dificuldades...). Haverá, todavia, gente que permanecerá da mesma maneira que sempre foi. E, por fim, outros tantos terão comportamentos ainda piores que os que já tinham (egoísmo, narcisismo, individualismo, egolatria, consumismo desenfreado, antipatia, preconceito, xenofobia, belicosidade). Um vírus não é capaz de mudar a mentalidade de ninguém. Apenas a própria pessoa é capaz de mudar sua maneira de pensar, de refletir sobre o que acontece consigo e com os outros, com a natureza e com o mundo em que habita. O vírus pode ser, no máximo, um vetor para a mudança. Ainda que, de fato, muitos em nada mudem, os que mudarem poderão fazer isso para o bem ou para o mal (utilizando o dualismo reinante na sociedade normótica). Os que, como os cavalos domados, carregam antolhos colocados pela sua família ou grupo de influência (religiosos, políticos, sociais...) muito provavelmente irão exacerbar o uso de tal apetrecho metafórico, tornando-se, ainda mais, míopes. Os indiferentes, provavelmente continuarão a sê-lo. E aqueles que, mesmo antes de qualquer notícia sobre a Covid-19 já buscavam se tornar modelos pessoais mais evoluídos de si mesmos, seguirão na marcha, talvez com um pouco mais de dedicação. É importante sempre lembrar que, até agora, mais de 625 mil pessoas no mundo todo não tiveram a oportunidade de escolher como sairiam da quarentena, pois perderam suas vidas. Aqueles que se acham especiais, seres completos, apesar de todos os seus defeitos, nada terão para mudar em si. Aqueles que acreditam poder melhorar sempre, a cada dia, certamente persistirão em suas tentativas. E para quem isso não é uma questão, por ignorância ou escolha, tanto faz... Haverá, no futuro, quem irá se preocupar mais com o bem estar de outros seres humanos, ainda que não sejam seus parentes ou amigos. Alimentarão o altruísmo. Se dedicarão a ajudar quem necessite de seu apoio. Haverá, também, quem se torne mais egoísta, preocupado em que falte, para si, os insumos indispensáveis para uma vida plena (seja lá o que essa pessoa julgue como tal) e que não irá pensar em mais ninguém além de si ou, no máximo, num parente próximo ou amigo mais chegado. Alguns farão o possível para poluir menos o planeta. Outros, egocentrados, abusarão do uso daquilo que acreditem saciar seus desejos e vontades, não se importando com os resultados de seus atos. Logo, a questão "Será que seremos pessoas melhores depois da quarentena?" não pode ser respondida de maneira generalista. Quem quiser ser alguém melhor do que se acredita ser hoje, ou do que era antes da pandemia, provavelmente lutará para sê-lo. Quem acha que é o ser humano mais perfeito que pode ser, e já se achava assim antes da pandemia, certamente seguirá sendo a mesma pessoa. Esta pergunta não deve ser feita com relação à humanidade. Ela só possui sentido se for respondida de maneira individual por cada um dos seres humanos que forem capazes de fazê-lo.

Nenhum comentário: