terça-feira, 27 de novembro de 2007

Artigo Apresentado no Seminário Internacional de Turismo 2007, em Curitiba - PR

Piranguinho – MG, caminhando a pé-de-moleque rumo ao turismo sustentável [1]

Erick da Cunha Coelho Zickwolff
[2]


RESUMO

O trabalho tem como proposta analisar os fatores que fizeram com que a cidade sul mineira de Piranguinho se tornasse conhecida nacionalmente pelo título de “Capital do Pé-de-Moleque”
[3], e de que maneira a cidade vem utilizando este epíteto para se auto-promover e implementar a atividade do turismo no local.
Além disso, o autor propõe algumas atitudes que poderiam ser realizadas pelo governo local para a melhoria da infra-estrutura turística e para a real inserção do município na atividade turística.
Da origem da produção e comercialização do doce feito de amendoim e rapadura, por uma família que necessitava sobreviver às adversidades, até a aparição em programas televisivos, o artigo mostra como a cidade de Piranguinho, com menos de oito mil habitantes, utiliza o pé-de-moleque para fazer sua fama, atraindo mais visitantes, a cada ano, aos eventos que realiza, e como pode desenvolver o setor do turismo, de maneira sustentável, mantendo suas características e trazendo benefícios econômicos e sociais a seus habitantes.
Por fim, percebe-se que a cidade de Piranguinho pode, em parceria com as cidades do seu entorno, começar a desenvolver o turismo como fonte de geração de renda e inclusão social, dado o reconhecimento da importância desta atividade e a inclusão desta região no Programa de Regionalização do Turismo, como o “Circuito Caminhos do Sul de Minas
[4]”.
O artigo foi desenvolvido através de pesquisa bibliográfica, com a utilização de fontes primárias e secundárias, em sítios da internet, artigos e livros, além de visita feita pelo autor ao município de Piranguinho, em junho de 2007, e a realização de entrevistas com moradores, visitantes e representantes do
governo local.

PALAVRAS-CHAVE
Piranguinho – MG. Pé-de-Moleque. Desenvolvimento Sustentável. Eventos.

ABSTRACT
This script has the propose of analyzing the facts that made Piranguinho, a city in south Minas Gerais, has been knew as “National Pé-de-Moleque Capital”, and how the city has been using this title to promote and implement the tourism activity in that place.
Add to that, the author propose some attitudes that can be realized by the local government to the improvement of the tourist substructure and to the real insertion of the city in the tourism activity.
Since the beginning of the production of the peanut candy, until the apparition in some TV programs, the article shows how Piranguinho, with lass than eight thousand inhabitants, uses the “pé-de-moleque” to make its fame, attracting more visitors every year, to the events that realize, and how can develop the tourism sector, in a sustainable way, keeping the original characteristics and bring economical and social benefits to the local residents.
At last, is possible to see that Piranguinho can, in partnership with the cities next to it, start to develop tourism like a economic and social increaser, once the importance of that region has became recognized by the Federal Government in the Tourism Regional Program, like “South Minas Ways Circuit”.
The article was developed through a bibliographic research, using primary and secondary resources, in sites, articles and books, moreover the trip that the author did to Piranguinho City, in 2007 June, doing interviews with the citizens, visitors and local governors.

KEYWORDS
Piranguinho – MG. Pé-de-Moleque. Sustainable Development. Events.

INTRODUÇÃO
Hoje, com apenas 45 anos de existência como cidade emancipada, Piranguinho vive principalmente da agricultura, mas sem dúvida alguma, o produto que mais se destaca é o pé-de-moleque produzido artesanalmente, da mesma maneira que era feito no início.
O pé-de-moleque, doce a base de rapadura, possui uma importância muito grande para esta cidade, do sul de Minas Gerais. Esta união entre o doce e a cidade começou na década de 1930, quando uma moradora, necessitando buscar um meio de sobrevivência, começou a produzir pés-de-moleque utilizando uma receita de família.
Em um mundo globalizado onde as culturas, cada vez mais, sofrem influências externas, formando um amálgama de símbolos e ícones, lugares que possuem suas tradições intocadas acabam por se destacar. Neste caso, as receitas que passam de geração em geração, com seus segredos guardados a sete chaves, têm um papel primordial na hora da preparação dos pés-de-moleque de Piranguinho. Aliás, receitas de família são consideradas verdadeiros tesouros para os mineiros.
Porém apenas um atrativo, neste caso um patrimônio imaterial, o pé-de-moleque, não é suficiente para que uma localidade desenvolva plenamente sua atividade turística. Com uma área de aproximadamente 130 Km2, Piranguinho pode, e deve, se quer realmente se inserir no turismo, ampliar sua oferta, através do agroturismo e do turismo ecológico, já que possui na agricultura sua maior força produtiva e vastas áreas verdes que poderiam ser utilizadas para a prática de trilhas e observação de espécimes nativos. Tudo isto, claro, sendo realizado de maneira sustentável e organizada.
Assim, o que se pretende com o presente trabalho é analisar os fatores culturais e sociais que fizeram com que o doce pé-de-moleque se tornasse um ícone local e como vem sendo utilizado para promover e atrair, a cada ano, mais visitantes à cidade de Piranguinho. Também se pretende discutir maneiras para o município piranguinhense desenvolver, de forma sustentável, o seu turismo.
O método básico utilizado na composição do artigo foi a pesquisa bibliográfica, com utilização de fontes primárias e secundárias, além de visita realizada pelo autor, à cidade de Piranguinho, no dias 09 e 10 de junho de 2007, durante a realização da “Festa do Pé-de-Moleque – Piranguinho 2007”, aonde foram realizadas entrevistas com produtores locais de pés-de-moleque, moradores, visitantes e representantes do governo municipal. Deve-se citar o nome de Eugênia Pereira da Silva e sua família, que deram suporte e hospedagem ao autor, na cidade vizinha de Itajubá, para que estas entrevistas e a visita ao local da festa pudessem acontecer.

DESENVOLVIMENTO

DE UMA FERROVIA, NASCE UM POVOADO
No final do século XIX, quando o Brasil era ainda um império, governado por D.Pedro II, o café era o produto mais rentável para os cofres públicos, porém não era o único. Apesar de não atingir as cifras do café, outros produtos agrícolas, em sua grande parte voltada para o abastecimento do mercado interno, eram cultivados e necessitavam de uma rota de escoamento. Com o intuito de facilitar a distribuição de tais produtos foram instaladas, em algumas regiões do país, estradas de ferro que foram essenciais para a melhoria dos sistemas de comunicação e transporte.
Muitas regiões de minas gerais assumiram então novos contornos sociais, econômicos e políticos. Até meados do século XIX a região onde hoje se localiza a cidade de Piranguinho pertencia à Baronesa Leocádia de Lourenço e estava subordinada a São Caetano da Vargem Grande, atualmente município de Brazópolis. Por volta da década de 1880 a localidade passou a interessar às autoridades responsáveis pelo desenvolvimento do projeto da “Rede Mineira de Viação”. Assim começou o processo de construção do Ramal de Sapucaí, que ligaria as cidades de Itajubá e Santa Rita do Sapucaí.
O primeiro trecho da linha foi inaugurado em 1891, partindo de Soledade até Itajubá. Em 1892 foi a vez da estação de Piranguinho ser aberta ao funcionamento. Porém a construção desta estação, e de grande parte dos trilhos deste trecho da linha férrea, começou dez anos antes. Em 1882, foi instalada na região uma serraria para a preparação dos dormentes
[5] e a construção da estação.
Na época as matas da região eram fartas em madeira de lei, como o jacarandá, o jequitibá e a pereira, e estas eram perfeitas para a confecção de dormentes duráveis e seguros. O que efetivamente fez a construção deste trecho da ferrovia acontecer foi a parceria entre uma comissão de chefes do projeto e a Sra. Leocádia. Esta oferecia a madeira necessária às obras, sua retirada e preparo, bem como forneceria mão-de-obra e construiria um engenho de serra movido a água para o beneficiamento da madeira. Em contrapartida a comissão construtora forneceu o projeto das instalações, fez a gestão da construção do engenho e retificou o curso do Ribeirão dos Porcos, para o represamento de suas águas, permitindo o funcionamento do engenho. Por isso a região, à época, tornou-se conhecida como “Engenho da Serra”.
Foi justamente em torno deste engenho, das obras da ferrovia e da estação que surgiu um povoado, que foi crescendo na medida em que mais trabalhadores eram requisitados. As primeiras habitações foram barracos de madeira e casas de pau-a-pique construídas em torno do engenho para abrigar estes trabalhadores.
Hoje a antiga estação está descaracterizada e serve de moradia para uma família há mais de 37 anos. O leito da ferrovia também já não mais existe e hoje, em seu lugar, se encontra uma avenida. Os fundos da velha estação dão para a rodovia que liga o município de Piranguinho a Itajubá. Os trilhos foram removidos em 1991.

A CIDADE DE PIRANGUINHO – MG
A cidade de Piranguinho está situada na região montanhosa do sul de Minas Gerais, mais especificamente na Serra da Mantiqueira, possuindo uma altitude média de aproximadamente 1150 metros e temperatura média anual em torno dos 17º Celsius. Localiza-se entre três dos principais pólos econômicos do país, as cidades de Belo Horizonte, Rio de Janeiro e São Paulo, das quais dista 436km, 315km e 270km, respectivamente.
Com aproximadamente oito mil habitantes e cerca de 130km2, a cidade possui uma taxa muito baixa de ocupação da terra, com uma média de 61 habitantes por quilômetro quadrado. Quando confrontada com uma cidade de área aproximada, como é o caso de Niterói, na Região Metropolitana do estado do Rio de Janeiro, que possui área de 140km2 e quase quinhentos mil habitantes, Piranguinho parece um “deserto”. Niterói possui uma média aproximada de 3571 habitantes por quilômetro quadrado.
Foi apenas em 1962 que Piranguinho se emancipou de Brazópolis e foi elevada a categoria de cidade. Seu nome vem do tupi e possui duas versões distintas quando traduzidas para o português. Na mais difundida, significa “peixe pequeno”. Porém, os estudiosos da língua indígena, nos últimos anos vêm afirmando que a tradução mais correta seria “Pequeno Rio Vermelho”.
Sua economia hoje se acha atrelada, principalmente, a produção agrícola, sendo o milho, a mandioca e o café os principais produtos em quantidade produzida. Já em termos financeiros, os melhores rendimentos vêm da cana-de-açúcar, do tomate de mesa e da mandioca. Há outras hortaliças, grãos, raízes e frutas que também são cultivados na região, tal qual o alho, arroz em casca, banana, feijões do tipo 1 e 2, laranja, cebola e em pequena quantidade, comparativamente, amendoim. Este amendoim plantado na região abastece algumas das barracas dos tradicionais pés-de-moleque da cidade de Piranguinho.
Pequenas indústrias também podem ser encontradas no município, sendo os produtos alimentícios, as bebidas e a fabricação de produtos minerais não-metálicos as principais produções locais. Segundo o IBGE, em pesquisa realizada no ano de 2002, a criação de animais também possui papel relevante na economia local. As populações de galináceos com cerca de 47.640 aves e a de bovinos, com 9.074 cabeças são as principais. Há também criações de suínos, eqüinos, muares, caprinos, coelhos e ovinos. Por possuir dois rios, Piranguinho também apresenta a atividade da pesca, que poderia ser explorada turisticamente, já que muitas pessoas gostam de praticar a pesca esportiva.
Atualmente Piranguinho vem buscando no turismo uma alternativa para aumentar as arrecadações municipais. Entretanto, pode-se dizer que a atividade turística local deixou de engatinhar a pouco tempo e está, neste momento, dando os seus primeiros passos. Utilizando o doce que se tornou símbolo local, o pé-de-moleque, a cidade começou a montar alguns eventos utilizando este doce como temática. Para que a cidade possa colher frutos mais maduros da atividade turística, se faz necessário algumas mudanças e incrementos na infra-estrutura local.

CHUTANDO AS DIFICULDADES COM PÉS-DE-MOLEQUE
Na década de trinta do século passado, na extinta estação ferroviária de Piranguinho, uma família que perdeu seus bens começou a produzir pés-de-moleque para tentar recomeçar a vida. Esta é a família Torino, e a precursora e dona da receita original, que é utilizada até hoje nos doces da Barraca Vermelha, a mais antiga e tradicional da cidade, foi Matilde Torino. Ela preparava o doce e seus filhos vendiam-nos na estação, para os viajantes de passagem pelo local.
O marido de D. Matilde, o senhor Modesto Torino, assumiu o controle dos horários das locomotivas e a família, que não mais possuía local próprio para morar, passou a residir em uma pequena habitação dentro da própria estação de trens.
A filha caçula do casal, Alcéia, que cresceu nesta “atmosfera açucarada”, quando adulta, apostou na iniciativa da mãe e começou a realizar, mesmo sem saber, o marketing do produto. Montou uma barraca na rodovia BR-459, que corta a cidade de Piranguinho e a liga a outros municípios da região, como Itajubá. Além disso, colocou meninos para vender o doce nos trens, não mais apenas na estação, mas durante as viagens.
Com o dinheiro da venda dos pés-de-moleque, D. Alcéia já viajou para a Europa e Estados Unidos e recomprou a casa perdida pelos pais, quando era ainda uma criança. Além disso, preocupada com a concorrência, ela patenteou a marca “Pé-de-Moleque de Piranguinho”. Hoje a barraca está mais moderna, mas o processo de produção continua artesanal como sempre.
Os pés-de-moleque da Barraca Vermelha foram muito elogiados e fizeram grande sucesso na Comdex, uma das maiores feiras norte-americanas de informática e que possui versões nacionais, no Rio de Janeiro e em São Paulo. Para esta ocasião foi utilizada uma embalagem na forma de um pequeno computador, para cada doce. Mas há muito tempo este doce já vem sendo elogiado, e até mesmo por pessoas públicas, como o ex-presidente Juscelino Kubitschek e o escritor Carlos Drummond de Andrade. Este último até escreveu um bilhete com elogios ao doce, cujo original foi perdido, mas que possui uma foto publicada no sítio da internet
http://www.barracavermelha.com.br/, a tradição já chegou ao mundo virtual.
Há alguns anos a revista Globo Rural fez uma entrevista com D. Altéia Torino, de várias páginas, falando sobre a história do doce que faz parte de sua família. Ana Maria Braga, apresentadora do programa Mais Você, que vai ao ar nas manhãs da Rede Globo, de segunda a sexta, convidou-a para figurar no programa que foi um sucesso. Com isto tudo, o nome de Piranguinho vai sendo levado cada vez mais longe.
Acontece que depois de perceber o sucesso crescente da Barraca Vermelha, outras famílias da cidade começaram a montar suas barracas, e uma competição por clientes e reconhecimento começou. Cada família possui sua receita própria e nenhum pé-de-moleque é igual ao de uma barraca concorrente. A segunda barraca a surgir foi a Azul, comandada hoje por Anunciata Passos de Carvalho e seus irmãos, filhos do fundador desta, o Sr. Otávio Antunes de Carvalho, em 1960.
De lá para cá inúmeras outras barracas foram surgindo, Marrom, Verde, Laranja, Prata, Branca e Amarela. Esta última também se destaca na região, principalmente durante a Festa do Pé-de-Moleque, que chegou a sua quarta edição neste ano de 2007. Seu dono é o Sr. José Carmo da Silva, o “Zezinho”. Ele, seus familiares e empregados são os responsáveis pela confecção do maior pé-de-moleque do mundo, que é preparado especialmente para a festa e depois cortado e distribuído entre os participantes da mesma.
A maioria destas barracas se localiza na frente das casas das famílias que trabalham na produção do doce. No quintal das casas há também pequenas fábricas onde se descascam, limpam, torram e moem os amendoins, com a utilização de máquinas modernas. Essas máquinas substituem, por exemplo, o tijolo que era utilizado para retirar a pele dos amendoins. Com isso eles agilizam a produção e a venda de seus produtos.
Assim é que surge e se consolida a tradição da cidade de Piranguinho e seus “afamados e tradicionais pés-de-moleque”, como diz o panfleto elaborado pela Barraca Vermelha para a propaganda de seu produto.

O DOCE DE AMENDOIM E RAPADURA
O pé-de-moleque é um doce tradicional da culinária brasileira. Ele é feito através da mistura de amendoins torrados, descascados e macerados que posteriormente são misturados a uma rapadura previamente derretida. Da boa qualidade desta rapadura dependerá a cor que caracteriza o doce. A mistura é lentamente batida em fogo brando e alguns amendoins inteiros são acrescentados
[6]. Quando é atingido o ponto prévio de cristalização a mistura deve ser, rapidamente, distribuída sobre uma superfície fria e lisa de pedra, geralmente é utilizada uma bancada de mármore. Esta é a forma tradicional e artesanal de se fazer o pé-de-moleque.
Com os avanços da industrialização da produção de alimentos, doces similares começaram a ser produzidos e passam a ser denominados como pés-de-moleque também, porém são bem diferentes em relação à aparência, à textura e ao sabor. A mistura destes é feita com açúcar derretido em que são acrescentados aos amendoins inteiros, formando um doce rígido, e que é reconhecido como pé-de-moleque nas grandes cidades e metrópoles brasileiras.
Para encontrar o tradicional pé-de-moleque é necessário procurar em pequenas cidades do interior do país, principalmente no nordeste, em São Paulo e Minas Gerais. A mais famosa dessas pequenas cidades é justamente Piranguinho. Não é estranho, portanto, que ela tenha recebido o título de “Capital Nacional do Pé-de-Moleque”.
Há duas versões para a origem do nome deste doce. A primeira diz que a aparência do doce, depois de pronto, se assemelha na cor e nos calos, aos pés dos moleques que corriam descalços pelas ruas de terra batida das cidades do interior. Já uma segunda versão fala das cozinheiras das fazendas que, enquanto mexiam seus grandes tachos no preparo da massa, eram assediadas pelas crianças das cercanias que imploravam por um pouco do doce. As cozinheiras então diziam a eles: - Pede, moleque!
Seja lá qual for a verdadeira origem do nome, o que importa é que este é um dos doces mais apreciados do país, sendo bastante consumido, principalmente, nas festas juninas e julinas Brasil afora.

O PÉ-DE-MOLEQUE COMO ATRATIVO TURÍSTICO
Piranguinho vem sendo chamada de Capital do Pé-de-Moleque, e isto se deve à produção local deste doce, de maneira artesanal, desde meados da década de 1930. Há alguns anos a cidade começou a promover uma festa dedicada exclusivamente ao seu mais famoso produto. A Festa do Pé-de-Moleque, que neste ano de 2007 teve sua quarta edição, está se tornando cada vez mais famosa na região sul de Minas Gerais, e atraindo mais e mais visitantes nos seus quatro dias de duração.
Nesta festa, todas as coloridas barracas de pé-de-moleque da cidade montam pequenos stands na Praça da Matriz, no centro da cidade, aonde vendem o produto e outros doces derivados como o bolo de amendoim e o pavê de pé-de-moleque. Também acontece, ao mesmo tempo, uma grande festa junina que faz um resgate da cultura local com apresentações de danças típicas e quadrilhas, além da presença de barraquinhas de brincadeiras (como “boca do palhaço” e “derruba latas”); de cachaça e quentão; de salgados e doces juninos (pastel de milho, doce de abóbora) e o pau-de-sebo, que não pode faltar em uma verdadeira festa junina.
O ponto alto da festa é a confecção e distribuição do maior pé-de-moleque do mundo. Na edição deste ano, realizada entre os dias 07 e 10 de junho, foi feito um doce de 12 metros de comprimento por 1 metro de largura. O responsável por essa façanha digna do Guinness Book of Records
[7] , é o Sr. José do Carmo da Silva, conhecido na cidade como “Zezinho”, e sua família. Eles são os donos da Barraca Amarela, que já possui três filiais espalhadas pela cidade.
Nas três primeiras edições da Festa de Pé-de-Moleque, que tinham a duração de três dias, um a menos que a de 2007, a média de visitantes durante o período chegou a duas mil pessoas, vindas principalmente das cidades próximas, como Piranguçu, Itajubá e Pouso Alegre. Os dados da festa deste ano ainda não foram divulgados, mas em entrevista realizada com Ana Lúcia Romancini, Secretária de Educação, Lazer e Turismo do município, o número de visitantes certamente superou a média dos anos anteriores.
Outro evento que vem crescendo a cada nova edição é o Enduro a pé-de-moleque, que utiliza o nome do doce, de uma maneira divertida. Na edição de 2007, cinqüenta equipes participaram das caminhadas por trilhas que cortam o município. Além de terem de realizar o percurso no menor tempo possível, as equipes ainda precisam enfrentar algumas etapas de rapel e plantar árvores em áreas determinadas. Na inscrição é necessária a doação de um quilo de alimento não perecível que, posteriormente, será doado para as famílias mais economicamente necessitadas da região. Foram 290 quilos de alimentos arrecadados e 60 árvores plantadas no percurso. Como não podia deixar de ser, na linha de chegada os participantes podem saborear o tradicional pé-de-moleque local.
Isto demonstra a preocupação dos organizadores do evento, a ONG Primatoos, apoiada pela prefeitura piranguinhense, com a natureza e a sociedade local, e serve como exemplo para que outros eventos possam também contribuir para o desenvolvimento da sustentabilidade do meio ambiente.
Além desses dois, outros eventos fazem parte do calendário oficial da cidade. Em fevereiro a cidade organiza seu carnaval, no trevo da BR-459, que é considerado um dos melhores de toda a região. Blocos da cidade saem às ruas e um palco é organizado para shows de axé music, samba e pagode. Outro evento é a Barqueata Ecológica no Rio Sapucaí, com objetivo de conscientizar os participantes sobre os cuidados com o meio ambiente.
Em março e outubro a cidade realiza a Festa do Peão de Boiadeiro de Piranguinho, no Centro Regional de Rodeio Paulo Mas, reunindo peões do país inteiro. É a festa de peão mais famosa de toda a região e a arena tem capacidade para alguns milhares de expectadores. Em março de 2007 foi realizado o primeiro Campeonato de Skate de Piranguinho, na pista “Flávio Henrique de Mendonça” , recém inaugurada em fevereiro e que contou com a presença de skatistas profissionais de várias localidades.
Em julho acontece o Encontro de Jipeiros, Gaioleiros e Motociclistas, que percorrem algumas trilhas da região. Outro evento do mês de julho, e que é considerado o mais importante, devido ao número de participantes, é a Festa da Padroeira Santa Isabel, com quermesse e shows na Praça da Matriz. São Benedito também tem uma festa realizada na cidade, no mês de maio, o que demonstra que a cidade possui um veio de turismo religioso que pode ser explorado.
O turismo de evento se mostra o mais desenvolvido no município de Piranguinho, porém há outros tipos de turismo que podem ser explorados na região, além de fazer necessária a melhoria da infra-estrutura local.

AÇÕES PARA O INCREMENTO DO TURISMO LOCAL
Levando em consideração o tamanho da população de Piranguinho e a arrecadação da prefeitura através de impostos, que segundo dados da Secretaria de Estado da Fazenda, foi de R$336.208,00 no ano de 2003, é essencial para que o turismo venha, de fato, a ser inserido na realidade local, a busca por parcerias com os municípios vizinhos e que também fazem parte do Circuito Caminhos do Sul de Minas.
A principal deficiência do local em relação ao turismo é a quantidade dos meios de hospedagem. A cidade só possui uma pousada, a Pousada do Léo, que não é suficiente para acomodar todos os visitantes do local, que muitas vezes, dependendo dos eventos de que participam, têm de buscar em outras cidades um lugar para se hospedar.
Seria interessante para a cidade, portanto, a construção de mais algumas pousadas ou até mesmo de um hotel, para atender a uma demanda crescente de turismo. O treinamento e capacitação de mão-de-obra para o turismo também se faz necessária e pode aproveitar os habitantes locais, inserindo-os em uma atividade econômica e contribuindo para o crescimento de sua qualidade de vida.
Há também a possibilidade da inserção, em Piranguinho, do turismo ecológico e do agroturismo, devido aos grandes espaços naturais e agrícolas do município. Pela sua localização próxima ao eixo Rio - São Paulo, dois grandes centros urbanos muito conturbados e estressantes, estes dois tipos de turismo certamente teriam uma demanda interessada em viver um contato maior com a natureza e com a tranqüilidade da vida campestre.
Outra opção interessante é a mobilização de Piranguinho e de suas cidades vizinhas, pertencentes ao Circuito Caminhos do Sul de Minas, que poderiam integrar de maneira real, formando uma espécie de cluster, para o desenvolvimento efetivo do turismo, explorando, cada uma, seus maiores potenciais e aumentando sua arrecadação proveniente da atividade turística, podendo esta ser utilizada para o desenvolvimento sustentável do turismo, melhorando as condições ambientais e sociais da região.

CONCLUSÃO
Tendo sido apresentados os resultados e argumentos da pesquisa realizada para o desenvolvimento deste trabalho, o que se pode inferir sobre este é que o povo brasileiro, através de sua criatividade, consegue “driblar” as dificuldades que a vida apresenta, e através de idéias simples, como a confecção e comercialização de um doce caseiro, pode chegar a transformar a história de uma cidade, tornando-a famosa e contribuindo para o seu desenvolvimento econômico, ambiental e social.
Percebe-se também que o turismo pode contribuir, desde que desenvolvido de forma organizada e sustentável, para que um município, ou mesmo uma região, incremente a sua arrecadação e invista o resultado desta na melhoria da condição de vida dos habitantes, além de torná-la cada vez mais atrativa para os seus turistas e visitantes.
Minas Gerais, segundo o Chef de Cousin Alex Atala, possui uma culinária comparável a de países como França e Espanha, no que tange à diversidade, sabor e qualidade. Assim, outras cidades podem, a exemplo de Piranguinho, começar a trabalhar suas especialidades gastronômicas, e a partir daí, iniciar o desenvolvimento do turismo local, com o foco na melhoria da condição de vida dos seus habitantes e daqueles potenciais visitantes que certamente terão deliciosos motivos para conhecê-las.
É sempre interessante lembrar que, cada vez mais, o turismo vem sendo discutido de maneira a se desenvolver de forma sustentável, para que não só a população atual de um lugar possa se beneficiar dele, mas também para que as futuras gerações tenham este direito. Os atrativos culturais, sejam eles materiais (igrejas, museus, casarões) ou imateriais (músicas populares, receitas de doces típicos), e os atrativos naturais, devem ser preservados e bem cuidados. Aqueles municípios que seguirem esse modelo, com certeza, prolongarão os efeitos positivos do turismo por muitos anos.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
CHRISTO, Maria Stella Libânio. Fogão de Lenha: Quitandas e Quitutes de Minas Gerais. 5ª Edição – Petrópolis, RJ: Vozes, 1982.
DUARTE, Marcelo. O Guia dos Curiosos - Brasil. 2ª Edição – São Paulo: Companhias das Letras, 2001.
MINISTÉRIO DO TURISMO. Roteiros do Brasil: Programa de Regionalização do Turismo – Diretrizes Políticas. – Brasília, 2004.
OMT, Turismo Internacional: Uma Perspectiva Global. 2ª Edição – Porto Alegre: Bookmann, 2003.
ZICKWOLFF, E.C.C. A Música Caipira Que Virou Monumento, Um Menino Que Vende o Turismo em Ouro Fino – MG. Anais do Seminário Internacional de Turismo. Turismo, Associativismo e Desenvolvimento Regional, Curitiba, setembro, 2006.
http://pt.wikipedia.org/wiki/Pé-de-moleque, em 08 de junho de 2007.
http://pt.wikipedia.org/wiki/Piranguinho, em 10 de junho de 2007.
http://www.barracavermelha.com.br/, em 28 de junho de 2007.
http://www.bussolanet.com.br/cidades/inicial.asp?id=126, em 10 de junho de 2007.
http://www.descubraminas.com.br/destinosturisticos/hpg_municipio.asp?id_municipio=242, em 08 de junho de 2007.
http://www/.eptv.globo.com/caipira/interna.asp?ID=16306, em 08 de junho de 2007.
http://www.indi.mg.gov.br/municipios/m51008.htm, em 08 de junho de 2007.http://www.prefeiturapiranguinho.com.br/
[1]Trabalho orientado pela Professora Valéria Lima Guimarães , da Universidade Federal Fluminense – RJ.
[2]Bacharelando em Turismo pela Universidade Federal Fluminense – 7º período. E-mail: erickturismo@hotmail.com . Membro do Entretere, Núcleo de Pesquisa e Extensão em Turismo – UFF.
[3]Esta denominação pode ser encontrada no livro “O Guia dos Curiosos – Brasil”, na seção de geografia, do autor Marcelo Duarte.
[4]O Circuito Caminhos do Sul de Minas, do Programa de Regionalização do Turismo, é composto, além de Piranguinho, pelos municípios de Brazópolis, Conceição das Pedras, Cristina, Dom Viçoso, Itajubá, Maria da Fé, Pedralva, Piranguçu, São José do Alegre e Wenceslau Brás.
[5] Travessas de madeira aonde se assentam as barras de ferro que prendem as rodas dos trens na linha férrea.
[6] Na realidade existem dois tipos de pés-de-moleque, um com acréscimo de amendoins e outro que lembra uma paçoca, pois não recebe a adição dos amendoins inteiros.
[7] Livro de origem inglesa em que são registrados os maiores feitos do ser humano e da natureza, em forma de recordes.

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