sexta-feira, 23 de novembro de 2007

O Segundo é Poesia

Conforme prometido, aí vai o segundo texto do dia, é uma pequena poesia, escrita há pouco mais de um ano, que retrata um certo período da minha vida, a minha luta contra a Síndrome do Pânico. É engraçado, hoje, após ter vivido o turbilhão que este mal causou na minha vida, perceber que a máxima, "Há males que vêm para bem", é extremamente real e válida. Hoje, após caixas de antidepressivos e calmantes e de muito tempo de análise, sou uma pessoa melhor, no sentido de aproveitar melhor o que a vida tem para oferecer. Não sou nenhum herói, e confesso que não me sinto responsável por nenhuma melhoria significativa em prol do mundo ou da humanidade, mas me sinto um ser-humano mais completo, mais capaz de buscar sonhos que antes não seriam palpáveis, sou mais eu. Já dizia o filósofo Sócrates: "Conhece-te a ti mesmo". E é isso que eu venho fazendo desde o diagnóstico da doença, conhecendo o Erick, ou melhor, conhecendo aquela pessoa que foi batizada com este nome, que habita o corpo concebido pelos meus pais. Essa conversa está ficando meio metafísica, não era minha intenção, aliás, o que eu havia prometido era apenas uma poesia. Como compensação pelo abuso da sua paciência, vou postar logo dois poemas, da mesma época, escritos no mesmo dia.

A Dor de Ser

A dor de quem não sente dor
O medo de estar no meio do nada
Nadando em um oceano obscuro
A morte rondando o pensamento
Batendo na porta a cada momento
O vazio profundo chamando meu nome
O sabor amargo do antidepressivo
A cabeça voando na onda do calmante
O amante abatido na caça
O peso dormente da própria carcaça
Desgraça de vida insanamente maravilhosa
Maravilha de vida desgraçadamente insana
Que horas serão quando eu já não for?
Cadê você que prometeu me dar a mão?
Só sinto o vazio da sombra do abajur
E se tento fugir, sem saber de que,
Estou intrínsecamente preso em mim.

Crise

O peito me dói dormente
A mente me agride sem pena
Apenas quero não ser eu
Eu quero deixar tudo para trás
A paz de ser nada no mundo
Afundo a cabeça no peito
Aceito a dor que me inunda
Profunda vontade de gritar
Saltar do trem em movimento
No momento certo, incerto.

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